sexta-feira, dezembro 16, 2011

Para Descansar a Vista

Retorno sempre com prazer a meu Mestre Eugénio de Andrade, neste Dezembro estranho de tanta tolice política e tanta miséria social, adivinhando um "Amanhã" pouco fácil perante o "Silêncio" de tantos  que mais, que muito mais , podiam fazer por todos nós...


O Silêncio

Quando a ternura
parece já do seu ofício fatigada,
e o sono, a mais incerta barca,
inda demora,

quando azuis irrompem
os teus olhos
e procuram
nos meus navegação segura,

é que eu te falo das palavras
desamparadas e desertas,
pelo silêncio fascinadas.

Eugénio de Andrade, in "Obscuro Domínio"

Até Amanhã

Sei agora como nasceu a alegria,
como nasce o vento entre barcos de papel,
como nasce a água ou o amor
quando a juventude não é uma lágrima.

É primeiro só um rumor de espuma
à roda do corpo que desperta,
sílaba espessa, beijo acumulado,
amanhecer de pássaros no sangue.

É subitamente um grito,
um grito apertado nos dentes,
galope de cavalos num horizonte
onde o mar é diurno e sem palavras.

Falei de tudo quanto amei.
De coisas que te dou
para que tu as ames comigo:
a juventude, o vento e as areias.

Eugénio de Andrade, in "Até Amanhã"

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