sexta-feira, dezembro 02, 2011

Porcos autóctones de 4 patas...

Faço a precisão no título "de 4 patas" para não haver azo a comentários foleiros sobre os "outros porcos" que pululam ( ou melhor, já que o porco não pula muito, foçam) nas ruas, praças, gabinetes e assembleias deste nosso país. Até nos Estádios de Futebol !!

Mas vamos ao que interessa: Os entendidos garantem que raças específicas deste nosso Portugal "sem espinhas" nenhumas de autenticidade garantida, existiriam duas - Bísaro e Alentejano - tendo vindo à liça também nalgumas conversas com gente desta poda o raríssimo e antiquíssimo "Malhado de Alcobaça" de que junto fotografia, como a outra das nossas raças autóctones.

Conta a lenda (enfim, deixando passar o exagero) que esta raça teria sido melhorada e protegida pelos bons Frades de Cister que fundaram o Mosteiro, tendo por base algum porco trazido da sua Abadia de Cluny,na Borgonha , de onde veio também o Conde D. Henrique. D. Afonso Henriques, como sabem, era sobrinho em 2º ou 3º grau do  importante Abade de Cluny, Hugo, denominado "O Grande"...Mais tarde São Hugo.

Espero que esta mistura de raças de porcos com a raça dos Duques da Borgonha não me venha a trazer amargos de boca... Mal por mal os actuais descendentes podem enviar para  minha casa uma caixita de Roumanée-Conti que logo retirarei a porcina referência...Mas adiante que não estamos em Amarante...

Todas estas histórias, a confirmarem-se, tornariam esta raça  muito antiga mesmo, aqui na Península. (Ambas, a dos porcos e a dos Henriques, com licença de todos!)

Se do Bísaro e do Porco Alentejano (muitas vezes impropriamente chamado "porco preto") sabemos as múltiplas aptidões, existe ainda uma certa áurea de nevoeiro em torno do que seria o "Malhado de Alcobaça", como o tratavam e como o aproveitavam...

Claro que dito isto cedo nos vamos meter ao caminho para que o ISA (ou por ali perto) nos esclareçam cientificamente sobre as nossas dúvidas.

Devo até deixar aqui um segredo: Lá no velhinho "Instituto Superior de Agronomia" parece que há uma loja de venda ao público com produtos feitos pelos alunos sob a supervisão dos "lentes" ,  ali mesmo na Ajuda... Posso afiançar que bebi em casa do Amigo Álvaro (para onde me apresso a ir outra vez amanhã) uma aguardente velha daquelas da "ponta fina" à moda do Eça! Ora esssa aguardente era feita com todos os preceitos lá no ISA, provavelmente em alambique fora do controlo da ASAE (pôrra , porque é que fui falar nisto!?)

Como essa só me lembro de ter provado mais duas semelhantes:  a do IVV com 40 anos e a do Centro de Estudos de Nelas que afiançam ter mais de 40 anos também...Esta última ainda a podem comprar (por cerca de 35 euros se bem me recordo, Pechincha!!).

O problema é que me fazem mal ao estômago estes álcoois velhos destilados, Com a excepção do Whisky de qualidade, todos me provocam azia e mal estar. Mas que isso não Vos impeça de beber (com moderação, como hoje é de moda acrescentar).

Se algum dos leitores souber mais do que eu (o que não será difícil) sobre esta história do Malhado , por favor mande um comentário para aqui. Já estamos a trabalhar no Livro dos Sabores do Ar e do Vento e sabem-nos sempre bem umas dicas adicionais.

Um comentário:

JCalado disse...

Teria sido interessante consultar “As raças suínas em Portugal: sua origem e evolução”, de João Paulo Cordeiro (Lisboa: Junta Nacional dos Produtos Pecuários, 1985), mas um energúmeno apropriou-se do livro que ainda consta no catálogo da Biblioteca do Centro de Formação Profissional para o Sector Alimentar. Por isso, sobre esta questão do suíno malhado de Alcobaça, só pude recorrer a José Reis, autor de “Acerca do porco” (Lisboa: Federação Portuguesa de Associações de Suinicultores, 1995). Com a devida vénia ao autor, eis o que José Reis escreveu sobre esta raça e seus “parentes”:
"Sintrão, Bísaro Malhado ou Torrejano
Origem e história
Este tipo de porco, considerado raça por alguns autores e apenas grupo ou família por outros, formou-se em Portugal numa quinta da região de Sintra (a quinta do Marquês). Daí, ser também conhecido por porco da granja e teve a sua origem em cruzamentos sucessivos de porcos Bísaros com as raças inglesas Berkshire e Yorkshire.
Esta raça está extinta em Portugal, existindo hoje um porco aparentado, conhecido por Malhado de Alcobaça, que segundo supomos resultou da aquisição, na região de Torres Vedras e de Sintra, de todos os animais ainda existentes com aquele tipo.
Segundo Póvoa Janeiro, este mestiço teria sido criado em 1865 pelo ilustre veterinário Joaquim Inácio Ribeiro, em tempo director da Quinta Regional de Sintra (Quinta do Marquês).
Joaquim Pratas afirmava então que estes animais eram incontestavelmente os nossos melhores porcos de pocilga.
Para Tavares Cabral, esta raça teria resultado da raça Bísara mais ou menos pura existente em 1863 nos arredores de Sintra e de varrascos oriundos do cruzamento entre o Bísaro Açoriano e a raça Berkshire.
Paulo Nogueira refere ainda um tipo de porco que adquiriu certo renome na região de Ourém e Alcobaça, conhecido por Saro ou Pigarço, que admitia ter resultado do cruzamento do preto com o branco.
O desaparecimento desta “raça” deveu-se, segundo Tavares Cabral, ao fraco potencial económico dos seus pequenos criadores, que regra geral não possuíam mais de duas porcas criadeiras. Ao desmame, eram levados para o mercado os melhores leitões, ficando os “aguadeiros” na cortelha, bem como a fêmea mais pequena e menos perfeita por não ter venda para a recria e engorda.
Por outro lado, esta “raça” começa a sofrer da natural e espontânea tendência dos criadores com a introdução do Large White nos seus efectivos. Os produtos obtidos tinham maior prolificidade, melhor desenvolvimento, melhor conformação, mais rápido crescimento, traduzindo-se a venda dos leitões a melhor preço.
Descrição Fenotipica – Caracteres somáticos – 1959/60
Estrutura relativamente elevada (até 0,80 m à cernelha), para o que contribui em grande parte o vazio sub-esternal; apreciável comprimento do corpo, cuja linha dorso-lombar, estreita e pobre de músculos, é frequentemente convexa; pelagem preta malhada ou malhada de preto, com pele subjacente pigmentada ou não, e cerdas muito abundantes, rijas e grossas, por vezes bicolores; cabeça grossa, de perfil variando do côncavo, de tromba medianamente comprida e larga, faces pouco desenvolvidas e relativamente largas e de orelhas compridas e largas (trapalhudas), pendentes, embora dirigidas obliquamente para diante sem atingir, pelo geral, os olhos; o pescoço é medianamente comprido e não muito musculado; o tronco é achatado, regularmente comprido e não muito alto; arcos costais pouco convexos e tórax pouco profundo, dorso por vezes cortante e frequentemente arqueado e ventre recolhido, com flancos pouco descidos; a garupa é estreita, regularmente comprida, descaída, por vezes derreada e pobre de músculos; espáduas e coxas pouco musculadas, embora de regular comprimento; os membros são fortes, exageradamente largos e ossudos, compridos e frequentemente mal aprumados, sobretudo os posteriores; os pés são fortes e largos mas de faces plantares frágeis e sensíveis; a cauda é muito grossa, revestida de muitas cerdas e de média inserção.
O Bísaro Malhado era, sem dúvida, um derivado do antigo porco Celta".