segunda-feira, outubro 27, 2008

A Memória Histórica do País


O nosso grande Amigo, e também grande Mestre, Prof. Doutor Oliveira Marques costumava dizer que "a Filatelia tem de ser a memória histórica deste País".

Com isto queria ele dizer duas coisas:
a) Que toda a informação que carreirávamos para o público tinha de estar acima de qualquer suspeita em termos de integridade factual e correcção científica.
b) Mas também que os Acontecimentos comemorados em selos deveriam ser escolhidos tendo em atenção a sua importância no passado, para que pudessem - mais tarde - constituir de per si uma espécie de "resumo" das mais importantes datas da História de Portugal.

Esta era - e é - uma ideia de grandiosidade e de importância real da Filatelia de qualquer país, própria de um probo e ilustre historiador. E, se em relação à teoria que está por detrás destas afirmações nada há a dizer, muito pelo contrário, já em relação à respectiva concretização prática existem dúvidas...

Não tanto em relação à correcta apresentação dos Temas, já que os CTT-Editores, do ponto de vista dos Textos publicados que acompanham os selos - as pagelas - colocam-se sempre nas mãos de especialistas para redigir informação sobre esses temas. Esses Especialistas serão - em todas as circunstâncias - do melhor que for possível encontrar em Portugal nos respectivos campos de actuação.Podem cometer erros, são humanos, mas não seria possível fazer melhor escolha.

Mas estou sobretudo céptico em relação à "escolha" dos próprios temas em si.

Se olharmos para o passado veremos temas e personagens em selos que , hoje em dia, não seria fácil voltar a retratar filatelicamente.

Bem sei que a História é escrita pelos vencedores, e que estas coisas da Filatelia não fogem à regra, mas numa altura em que celebramos - e muito justamente - o Centenário da República, imaginem os problemas que devemos ter em relação à evocação da 2ª República (ou, como também há quem diga, do "Consulado de Salazar" entre a 1ª e a 2ª Repúblicas)...

Compete aos CTT serem "marteleiros" da história portuguesa do sec XX ?

Podemos passar uma esponja pelos anos que correram entre 1928 e 1974? Com que rigor histórico e em que teoria da história nos escudaremos para fazer isso?

Mas, por outro lado, serão as personagens de Regime que estiveram na ribalta entre 1928 e 1974 merecedoras de serem evocadas em selos?

Não reservamos os selos para acontecimentos de grandeza histórica que "enaltecem e honram o País"?

E não deveriam essas personagens ter já sido (como foram quase todas) evocadas em selos da sua época, para assim se cumprir o rigor histórico e a "memória filatélica da História"?

Para quê falar agora nelas outra vez? Todavia, não falaremos agora também dos grandes republicanos de 1910?? E não saíram já esses também em selos "in illo tempore"?

Muito "pano para mangas" que dará cabo da cabeça a qualquer bom alfaiate...

Um comentário:

Anônimo disse...

Gostei do tema, da abordagem e do pano para mangas.
Peninha