segunda-feira, maio 05, 2008

Maio de 1968


E já se passaram 40 Anos!

Pouco recordo pessoalmente dessa altura de excitante ruptura social na velha Europa , e logo em França, onde se deu a Madre de todas as Revoluções...

Tinha 13 anos e os meus problemas deviam ser as notas lá nos Salesianos do Estoril, onde a exigência sempre foi grande...

Talvez uns quinze dias das férias desse Verão , que passei em casa dos meus Tios paternos, em Lisboa, me tivessem marcado mais, pois foi no início de Agosto, altura em que Salazar caíu da cadeira e em que se começou a falar mais abertamente de abertura democrática.

O irmão de meu Pai era bancário - gerente do Fonsecas e Burnay - e estava sempre a contar histórias do sindicalista herói da classe, o Cabrita, e de como ele era perseguido e , ao mesmo tempo, apoiado ( e a família) por todos os Bancários do país.

Lembro-me de meu Pai franzir o nariz a essas histórias (sempre era funcionário público) mas também me lembro de o ter visto abrir uma garrafa de Espumante lá em casa quando o velho Almirante nomeou o Professor Marcello Caetano para a Presidência do Conselho, ainda em 1968.
E de quem se dizia ter planos para a autonomia das Colónias...

Eram tempos que me pareciam de grande contenção noticiosa se os comparar com a actualidade. Lá em casa comprava-se todos os dias de manhã o "Notícias" (fazia parte da lista de compras da minha Mãe) e, à tarde, o meu Pai trazia do Cais-do-Sodré o "Popular" que vinha a ler no comboio até chegar ao Estoril.

Talvez porque não se pudesse falar muito de Portugal, onde a Guerra Colonial atingiria por estes anos o apogeu do desenvolvimento, a epopeia de Maio de 68 em Paris encheu os nossos jornais.

Na minha memória ficou apenas a visão das manifestações dos estudantes, reprimidas fortemente pelas polícias, e ainda - não sei bem porquê - uma fotografia de um Jean Paul Sartre muito novinho perorando na Sorbonne (terá saído num dos nossos jornais). Talvez porque meu Pai estimava Sartre de outras bolandas e se tivesse insurgido contra esta aparente "colagem" do mestre à estudantada libertária e libertina.

Não nos esqueçamos que na memória dos adultos desse tempo estaria ainda a 2ª Guerra Mundial e que para alguns portugueses - e meu Pai era desses, apoiante indefectível dos Aliados - O General de Gaulle seria sempre, até morrer em Colombey-les-deux- Églises, um dos seus heróis referenciais.

E devia custar-lhe ver um Herói nestas andanças de 68... Na pancada à estudantada...

Aprimeira Fotografia que ilustra este Post é da grande Manifestação Estudantil de Maio de 68 nos Campos Elísios. Nela alguma coisa me faz lembrar o Primeiro 1º de Maio em Liberdade em Portugal (ver Post anterior). Seria profético?

Um comentário:

Anônimo disse...

Ao ver algo sobre o Maio de 68 e saber que já lá vão 40 anos, apetece-me referir algo do que foi a sua repercursão neste Burgo à beira-mar implantado.
Em 69 chegaram às Universidades Portuguesas os reflexos do Maio de 68 e lembro-me do que foi 69, com as greves, as fugas à policia, as carrinhas Mercedes da Policia, cheias de PSP´s, os corredores cheios de policias,as reuniões,os reflexos na vida de uns tantos estudantes Universitários, com as incorporações de 71 no serviço militar, os cursos de capitães milicianos,os reflexos na crise do sistema e do regime, das medidas tomadas para travar a "crise" estudantil de 69.
O regíme começa a cair com as medidas tomadas para suster a "crise" estudantil de 69, reflexo do Maio de 68.
Meteram o "inimigo" lá dentro.
A ida para a tropa de todos os que tinham cadeiras atrasadas mesmo com adiamento( mesmo alunos dos últimos anos dos cursos, com direito a adiamento e taxa militar paga)
Os cadetes que morreram afogados,em mafra numa lagoa, em instrução.
A recusa no juramento de bandeira de todos os cadetes, em determinada incorporação( ninguém abriu a boca).
A reacção estupefacta dos que estavam no palanque e o destroçar e envio para casa ràpidamente.
A guerra Colonial e o ambiente que se vivia por dentro nos soldados, nos sargentos(furrieis) e nos oficiais milicianos(alferes e alguns capitães), assim como nos quarteis.
Muito haveria a reflectir e a contar sobre as causas da queda do antigo regíme...estava pôdre e corroído por dentro, mas não dúvido que em 69 e posteriormente em 71 sofreu um empurrão e dos grandes.