sexta-feira, abril 29, 2011

Vem aí o Dia da Mãe (tenham paciência...)

1 de Maio, Dia do Trabalhador! Mas também o 1º Domingo de Maio...Logo o Dia da Mãe...

Embora - por azar  dela e nosso - a Santa Senhora esteja um pouco combalida da saúde nesta altura , tenho fé em que no Domingo já estará em nossa casa, a  tomar assentadura à minha modesta mesa... E a querer ligar a TV no "casamento real" sem dúvida. Estou já a armar-me de paciência, treinando para o que se avizinha,  e que não será pouco.

Já tenho as "prendas" (pois, são duas,  porque segundo a Senhora -  "Avó é Mãe duas vezes e o neto também tem que dar qualquer coisa").  E vou comprar hoje à tarde a matéria-prima para os "comestíveis" (tenho sempre de lhe fazer neste dia e nos anos um empadão de carnes, que é aquilo que mais aprecia).

Sendo a Sexta feira lírica do costume e nestas vésperas do "dia santo" (ou melhor dito, "da santa") nada mais indicado do que lhe dedicar um ou dois poemas. Fugindo ao "choradinho" e  às "pieguices" do costume trago à liça o nosso austero Antero e o imortal Carlos Drummond de Andrade:

Mãe...

Mãe — que adormente este viver dorido,
E me vele esta noite de tal frio,
E com as mãos piedosas ate o fio
Do meu pobre existir, meio partido...

Que me leve consigo, adormecido,
Ao passar pelo sítio mais sombrio...
Me banhe e lave a alma lá no rio
Da clara luz do seu olhar querido...

Eu dava o meu orgulho de homem — dava
Minha estéril ciência, sem receio,
E em débil criancinha me tornava.

Descuidada, feliz, dócil também,
Se eu podesse dormir sobre o teu seio,
Se tu fosses, querida, a minha mãe!

Antero de Quental, in "Sonetos"

Para Sempre

Por que Deus permite
que as mães se vão embora?

Mãe não tem limite,
é tempo sem hora,
luz que não apaga
quando sopra o vento
e chuva desaba,
veludo escondido
na pele enrugada,
água pura, ar puro,
puro pensamento.

Morrer acontece
com o que é breve e passa
sem deixar vestígio.

Mãe, na sua graça,
é eternidade.

Por que Deus se lembra
— mistério profundo —
de tirá-la um dia?

Fosse eu Rei do Mundo,
baixava uma lei:
Mãe não morre nunca,
mãe ficará sempre
junto de seu filho
e ele, velho embora,
será pequenino
feito grão de milho.

Carlos Drummond de Andrade, in 'Lição de Coisas'

Nenhum comentário: