sexta-feira, março 04, 2011

Para Descansar a Vista neste Carnaval de Crise

Fim de Semana de Carnaval.... Tristezas não pagam dívidas e mais vale mexer os pés ao compasso da dança do que a caminho da Farmácia.  Dinheiro livre para brunir a quadra não haverá muito, mas há que improvisar e, ( porque não?) por exemplo retomar as antigas ladainhas das "Festas na Garagem" onde muitos de nós, lá para os 70's , fizémos a Primeira Directa!

Algo importante para os adolescentes desse tempo, quase que uma cerimónia, um ritual de "passagem" obrigatório antes de chegarmos ao "outro patamar", o das chaves de casa e das saídas nocturnas não supervisionadas para as Discotecas públicas.

Se ainda alguém mantém uma garagenzita no quintal, porventura cheia de velhos cacos, pode estar na altura de convocar tios e primos para a limpeza no Sábado, e aliciá-los com uma festa de Carnaval pela noite fora de Segunda Feira, antes que comece a Quaresma...

A receita da Feijoada já a dei. Sabe sempre bem antes da "desmóia" e tem a vantagem de poder ser rapidamente digerida durante a noite de dança. Ou então para o almoço da Terça Feira gorda, como se fazia na Serra.

Para Poema temático desta Sexta-Feira, que tenha a ver com algum espírito alegrete, mas ainda assim pobrete, lembrei-me de recorrer a Fernando Pessoa, e à sua célebre "Pobre Ceifeira",  que apesar de tudo...Canta!

Ela Canta!

Ela canta, pobre ceifeira,
Julgando-se feliz talvez;
Canta, e ceifa, e a sua voz, cheia
De alegre e anônima viuvez,

Ondula como um canto de ave
No ar limpo como um limiar,
E há curvas no enredo suave
Do som que ela tem a cantar.

Ouvi-la alegra e entristece,
Na sua voz há o campo e a lida,
E canta como se tivesse
Mais razões pra cantar que a vida.

Ah, canta, canta sem razão!
O que em mim sente ‘stá pensando.
Derrama no meu coração a tua incerta voz ondeando!

Ah, poder ser tu, sendo eu!
Ter a tua alegre inconsciência,
E a consciência disso! Ó céu!
Ó campo! Ó canção!

 A ciência
Pesa tanto e a vida é tão breve!
Entrai por mim dentro!
Tornai Minha alma a vossa sombra leve!
Depois, levando-me, passai!

Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"

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