segunda-feira, março 28, 2011

Moléstias à parte , o resto vai bem. Ainda ninguém morreu...

Nos anos 60, e de uma forma geral,  o emigrante português, fuçando até partir as costas lá fora,  nas obras do "bâtiment" ou noutros trabalhos miseráveis, sempre encarou esse "Purgatório aqui na Terra"  como uma coisa de passagem, à qual não devia dar grande importância, já que se tratava apenas de conseguir o dinheiro suficiente para regressar à sua aldeia, fazer a casita e viver da Segurança Social do País que o tinha albergado.  Durasse esta punição que impunha a si próprio 20 anos ou 30 anos...

É claro que havia também o emigrante que percebia  - por sorte ou por estar mais alerta para o mundo - que a sua vida melhoraria se olhasse para o período do exílio como uma oportunidade. Desses, alguns ficaram nos Países de destino, evoluíram, ao fim de uns anos eram mestres de obras, chegaram a ter empresas suas ou a associar-se a outros que as possuíam. Hoje estarão a viver em França ou no Luxemburgo, os filhos formaram-se  nas Universidades locais, os netos já não falam português  e só já cá vêm de quando em vez.  Mas teriam sido uma minoria.
Tenho parentes (por afinidade) desta última categoria.  Recordo-me sobretudo de um deles que começou - com a Mulher - como empregado de limpezas nos Hospitais de Paris a fazer os despejos e a tratar dos doentes que os outros não queriam tocar. E acabou dono de uma das primeiras empresas francesas privadas  de transporte de doentes . Tinha, a primeira vez que o vi e falei com ele, lá para os idos da  2ª maioria absoluta do Prof. Cavaco Silva  (1992?), 12 ambulâncias privadas que para além do transporte de doentes por conta do Estado francês, ainda faziam assistência em casa aos beneficiários da "Securité". E depois disso não parou de crescer ainda mais. Estava já nessa altura a pensar em exportar o conceito para o Luxemburgo. Empregava franceses, sem dúvida, mas gostava de dar a mão aos "patrícios" lusos. E muitas vezes vinha a Portugal buscar trabalhadores.

Na ocasião da nossa última conversa, já no tempo do Engº Guterres, teria ele já uns 68 anos e ainda conduzia uma das ambulâncias.  Confessou-me que  agora  os portugueses "já não queriam trabalhar no duro, como antigamente, quando tinha começado a emigração".

 E continuou:
"Quando chegávamos a Paris dormíamos em qualquer lado e comíamos do que encontrávamos. Até cheguei a ir aos caixotes do lixo antes de arranjar emprego. Hoje esta malta nova, a quem arranjo logo quarto, comida  e ordenado legal, assim que chega começa logo a falar de horas extraordinárias, folgas e fins de semana! Se têm uma gripezita já não se levantam da cama! Nós trabalhávamos 14 horas por dia (porque não nos deixavam fazer mais) e não havia Sábado ou Domingo que não nos oferecessemos para ficar no Hospital, a fazer as horas dos outros...E nunca faltávamos, com febre ou sem ela.  Foi assim que juntei dinheiro para a minha primeira ambulância!"

E as notícias que dava para casa eram quase sempre as mesmas: " Estamos bem apesar das doenças  e do cansaço do muito trabalho. Mas ainda ninguém morreu."

A filosofia do jovem português tinha mudado muito.  Ele, que se via de repente a viver num País que lhe parecia "Um Oásis"  , onde parecia haver dinheiro para tudo, onde as estradas se construíam já à força de braço do cabo-verdiano, porque ele, o português jovem, estava a tirar um curso, e depois daquele tiraria outro, e depois um mestrado e por aí fora. Os pais não se importavam, e até gostavam disso. Não seriam só os ricos que tinham Educação!

Era o tal  "engano de alma ledo e cego, a quem a fortuna não deixa durar muito". (Camões, Os Lusíadas, III, 120).

Terá durado 18 anos , entre 1992 e 2010.

E agora? Seria de esperar que  muitos  dos nossos desempregados ansiassem de novo que houvesse outra vez  "Bâtiments" para construir ou penicos para despejar nos Hospitais de alguma  França?

Nada disso amigos leitores! Esses trabalhos são para africanos! A malta "branca" e "educada" não se importa de emigrar , está claro, mas pretende emprego de secretária. De preferência com vista para o "Seine".

 Nem os Paizinhos deixariam que o filho ou a filha fossem lá para fora fazer esses trabalhos menores e desqualificados.

Era o que faltava depois de tantos anos a estudarem!!

Os alemães que paguem a crise!

Pobre País...

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