terça-feira, março 02, 2010

A Falta de "Hombridad" - Ainda o Caso Maddie

Citamos  John Alexander Mackay sobre o grande Miguel de Unamuno:

La cualidad del Hombre, en el sentido cabal de la palabra, Unamuno la ha llamado "Hombriedad". Nos cuenta, en uno de sus ensayos, que leyendo al gran historiador y psicólogo portugués Oliveira Martins, le hirió la imaginación la voz "Hombridade" que éste aplicaba a los castellanos. "Hombridade" le pareció un hallazgo. Conforme la emplea Unamuno, esta voz encierra cualidades más amplias que la simple probidad u honradez indicada por "hombría de bien". Su sentido es mucho más comprensivo y viril que "humanidad", o "humanismo", voces que se hallan estropeadas por oler a pedantería, a secta, a doctrina abstracta. Hombridad es la "cualidad de ser Hombre, sé ser Hombre entero y verdadero, de ser todo un Hombre". "¡Y son tan pocos los Hombres", agrega Unamuno, "De quienes pueda decirse que sean todo un Hombre!".


Se naqueles dias  (Unamuno nasceu em 1864 e morreu em 1936) já era  difícil encontrarem-se Homens à moda de  Unamuno, de quem se podia dizer que eram "todos eles, por inteiro,  Homens" ; imaginem como estaremos nos dias de hoje...
 
Probidade, Honradez, Carácter algo reservado e pouco dado a "cowboyadas", Amigo do seu Amigo, Constante nas opiniões, Escravo da palavra dada, Certo nas suas contas, Sibarita sem extremos, Bom Pai e Marido,  Amado e amante, um verdadeiro Muro de segurança ao qual se podiam encostar os mais  fracos e os mais humildes...
 
Tais qualidades definiriam o tal "Hombre" completo . Criatura mítica que - aqui para nós - nem sei se terá mesmo existido verdadeiramente, sobretudo se aplicada a todos os momentos da vida.
 
De facto eu - Optimista por natureza -  acredito que os Homens  de Bem serão ainda a maioria na nossa sociedade , não direi  que ganhem a perder de vista,  mas mesmo assim  serão  em maior número do que os outros, os do "inimigo", e que estes "bons"  possam em muitas ocasiões fazer sobressair as notáveis qualidades da verdadeira Hombridad.

Mas não em todas as horas da respectiva existência.

Todos nós já  nos arrependemos de algumas coisas que dissémos ou que fizémos, fosse por estarmos debaixo de alguma "influência" estranha à química natural do corpo, fosse por causa do stress ou das contrariedades do dia-a-dia.
 
Muito satisfeitos deveríamos estar se, contando bem, forem mais frequentes os momentos bons do que os momentos maus. Pois tudo no mundo não passa de cinzento, de várias tonalidades de cinzento. Já foram ( e bem) ao ar os tempos do Preto e Branco, em que os Índios eram "maus" e os Cowboys eram os "bons"...

Esta conversa inicial estendeu-se apenas para comentar a cena que vi e ouvi ontem no 2º Programa de Miguel Sousa Tavares "Sinais de Fogo".

Era entrevistado o Ex-Inspector Gonçalo Amaral, o tal do Caso Maddie, que foi afastado ou se afastou voluntariamente da Polícia Judiciária, escreveu um Livro que foi impedido por decisão judicial  de ser vendido e está agora debaixo de uma "injunção" legal que não lhe permite explicar-se ou explicar aos outros a sua versão dos acontecimentos.

Começo por questionar qual o interesse em interrogar o Ex-Inspector naquelas condições em que - para obedecer à lei - estava limitado na argumentação.

 Depois questiono vivamente ( para não dizer uma coisa pior) as qualidades de isenção do entrevistador . Este , ao tentar provar que Gonçalo Amaral não tinha mais do que tentado encontrar factos que se encaixassem na sua teoria sobre  a morte acidental provocada pelos Pais da menina, acabou por demonstrar uma atitude tão ou mais facciosa do que a supostamente assumida por Gonçalo Amaral: não o deixou falar, assumiu factos sem prova, demonstrou ter a "sua própria opinião" sobre o que se tinha passado e quis, à viva força, que o Ex-Inspector viesse agora à SIC concordar com essa versão "Tavariana" do nefasto acontecimento.

Péssimo serviço prestado aos espectadores, entrevista fraquíssima,  de qualidade abaixo de má. E se alguma conclusão tivémos que retirar depois da "cena" , terá sido que Miguel Sousa Tavares é muito, muito melhor comentador político do que entrevistador...

Não deve o sapateiro ir além da chinela,  como parece que terá dito Píndaro lá para os lados da velha Acrópole... E é bem certo.

Hombridad não se viu, nem sequer se cheirou, em qualquer das partes, na noite de ontem.  E era, ou devia ter sido, uma "Noite de Hombres,  numa charla entre Hombres": Um "duro" da Judite, honrado,  embora não olhando a meios para atingir os fins,  face a face, mano a mano, com  um honesto e experiente repórter de investigação,  à moda do Washington Post e  do Watergate...

Que pena...Mas que Pena...

O problema é que já não há "Hombres" como antigamente!

3 comentários:

Anônimo disse...

Caro Raúl

Recordo aqui um episódio passado nos Salesianos do Estoril com o saudoso Professor Brito, o qual tive o previlégio de conhecer e que me deu mais do que lições de matemática. Um dia entrei na sala de aulas com um olho negro e algo esfarrapado, os "grandes" (os alunos do 12º, eu frequentava o 10º) para me tirarem a bola usaram um pouco mais dos que as palavras, mais pelos nervos que revelava que pela coloração do meu olho o Professor Brito perguntou-me o que se tinha passado, ao que eu contestei que estava com mais raiva por ter fugido do que pelo que tinha apanhado. A sua resposta foi curiosa (e mais uma lição) "covarde não é o que tem medo, mas aquele que sendo mais forte se aproveita dos mais fracos, ou então aquele que só decide em função do que lhe podem fazer no futuro e não sobre o que o presente impõe como certo". Confesso que na altura tais palavras não me deram grande alívio, mas hoje com o passar dos anos entendo-as perfeitamente. Serve esta introdução para dizer que as duas últimas entrevistas do Sr. MST só revelam a sua cobardia, pois tudo aquilo que advoga caíu por terra na sua entrevista com o nosso primeiro ministro (seria o pós entrevista que o condicionou?), e só revelou a sua "força" com Gonçalo Amaral que estava limitado na sua defesa.

Tudo isto para dizer que concordo em absoluto consigo quando afirma que foi prestado um mau serviço aos telespectadores, e que se for esta a linha do programa o seu nome deveria mudar para "sinais de fogo ou de manteiga conforme a conveniência"

Um abraço

Paulo Mendonça

Anônimo disse...

O seu comentário é justíssimo! Também eu me quedei estupefacto pela forma descabida como Miguel Sousa Tavares tentou "entalar" o entrevistado. Para além de pouco ético, pareceu-me ainda desleal e, jornalisticamente, péssimo. Esta forma, algo íniquia, de cultivar uma imagem de "agressividade" e "dureza" faz dos entrevistadores uns equivocados "policias" e em termos de formação da opinião pública saímos todos a perder. Que diabo! Bastavam o Crespo, a Judite e a Moura Guedes...agora mais este?

Cumprimentos.
Berlino

Anônimo disse...

O Homem tem tendência de julgar os factos sem antes verificar o que de facto aconteceu.
Quantas vezes tiramos conclusões erradas das situações e nos achamos donos da verdade??
Cenas como a de ontem servem para pensarmos bem nas atitudes que tomamos.
Ás vezes fazemos os outros sofrerem pelo nosso injusto julgamento.
«A vida tem quatro sentidos:
Amar, Sofrer, Lutar e Vencer»
Então: Ame muito, Sofra pouco, Lute bastante e Vença sempre que possível...mas não julgue diante da primeira visão ou do primeiro comentário.