terça-feira, julho 02, 2013

A Carta do Sr. Ministro

Na minha opinião o grande facto político da tarde de ontem nem foi a demissão de Vitor Gaspar ou a nomeação de Maria Luis Albuquerque, mas sim a famosa carta deixada em testamento pelo Ministro de saída  e que ainda fará correr baldes de tinta...

Leiam aqui a tal missiva sff:

http://downloads.sol.pt/pdf/Cartade01072013.pdf

Na prática Vitor Gaspar pôe em cheque a liderança de Pedro Passos Coelho, queixa-se amargamente da falta de coesão no interior do Governo (leia-se, da oposição de Paulo Portas) e no meio disto tudo admite que a política que apadrinhou de austeridade sem olhar à economia falhou redondamente.

Devia ter começado pela Reforma do Estado e não pelos cortes no rendimento disponível dos portugueses. Devia ter começado por racionalizar as despesas , em vez de ter decidido aumentar as receitas à custa da classe média. E o resultado está à vista: a pior recessão dos últimos 60 anos, a queda abrupta do consumo individual, e a quebra significativa nas receitas fiscais.

Depois deste testemunho - que só peca por tardio - o que devemos esperar?

Infelizmente por nada de bom. A Srª Ministra que o substitui parece ter sido uma escolha imposta por Bruxelas (ou , em alternativa, a única escolha possível nas circunstâncias atuais) e não vai alterar o rumo das políticas financeiras.

Claro que vem aí o Congresso do CDS, e as moções a votar são todas de apoio à economia e de repúdio aparente da continuidade da tal política de austeridade cega...

Como se vai "compaginar" a moção ganhadora com a estratégia de Passos Coelho\Maria Luis Albuquerque?

Se tudo correr bem, o 1º Ministro vê-se obrigado a dar espaço governativo à "oposição interna". Se tudo correr mal, teremos eleições no início do ano que vem, ou melhor, daqui a um anito.

E a Troika ainda à espera que lhe expliquem como se vão cortar os 1700 milhões de euritos que foram acordados por carta do PM,  e que constam do OE para 2014...

Cá para mim é melhor esperar sentada...

Claro que  restam algumas  pequenas questões para resolver, as quais passo a enumerar:

- Saber como - sem a Troika alegre e contente - Portugal irá receber os maravedis que faltam para pagar as pensões, os ordenados da Função Pública e etc...

 - E ainda, saber de que forma os "Mercados" (essa nebulosa entidade todo-poderosa) vão reagir à saída do Feitor de Berlim do nosso governo... E como as taxas de juro dos nossos financiamentos  se vão comportar por causa disso...

- E, finalmente, quanto tempo vai resistir a nova Ministra ao impacto do escândalo das SWAPS em que se encontra envolvida?

Mas, como dizia o mestre mocho aos animais da floresta reunidos em convenção:

- " Eu sou consultor! E nós não nos preocupamos com esses detalhes!"

E alguém lhe respondeu:

- "O Diabo está nos detalhes..."

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