segunda-feira, outubro 01, 2012

De volta do Reino do AC

Ar Condicionado . Assim é a impressão que se leva do Qatar. Qualquer edifício público ou privado o tem. Deserto há , sem dúvida, mas quem pernoita num daqueles hotéis ou prédio de apartamentos  com paredes de vidro e 46 andares (ou mais) vive sempre "à sombra" do dito Ar Condicionado.

Já agora, sinal do riquismo exuberante existente naquele outro planeta é o facto de se construirem prédios em vidro num local  onde o sol bate de chapa e onde dão 51 grauzinhos no Verão... Que milhões serão precisos só para os arrefecer? ... Talvez alguns poços de pitrol trabalhem só para isso.

Sem falar da moda atual em vigor no país, segundo a qual qualquer senhor de bem na vida (e com a mesma) tem que ter os necessários apetrechos para...arrefecer as piscinas exteriores e interiores.

A dimensão do Centro de Congressos Nacional do Qatar , onde se realizou o nosso congresso e cuja foto anexo, é gigantesca. Talvez maior do que o aeroporto da Portela. Mármore e ferro em barda. Muito do complexo escavado no solo. Anfiteatros para 1000 pessoas, corredores onde se podia fazer uma corridita de 200 m, WC's de primeira, com o requinte (estamos num país muçulmano) das casas de banho masculinas e femininas estarem mais afastadas do que o habitual e, para além disso, das mesmas instalações para cidadãos deficientes estarem elas também divididas por sexos... E vigiadas!

O que se come? Dizem que o banquete oficial e institucional deste país tem que ter camelo bébé, assado inteiro sobre uma cama de arroz. Felizmente não me deram a provar essa barbaridade... Têm muito bom pão, frutas secas excepcionais,  carneiro (assim, assim), galinha (enfim...) e algum lombo de vaca importado. Peixe há também, vindo do Oceano Índico, mole como as lesmas tal a temperatura da água. Estes pratos principais em restaurantes custam sempre mais de 40€. a alternativa são as omnipresentes pastas à l'italiana.

Claro que a carne de porco está proíbida, em qualquer das suas variantes. Daqui aproveito e mando um grande beijo à colega Filipa da Bulgária, que apesar de  aflita pela falta da vodka ainda teve a amabilidade de me oferecer um salpicãozinho do seu país para meter dentro do pão... Tínhamos uma padaria gourmet dentro do hotel, o que safou bem esta ausência de vitualhas habituais.

 Depois é  mais o que não se bebe... Álcool ao longe, muito ao longe,  pode ser entrevisto em lojas especiais e onde os impostos são de 300%. Desta forma um vinho ordinário, daqueles que nem para temperar carne assada, chega ao cliente por uns 30 euritos.

"Of course" que isso não impede os sheiks de oferecerem D. Pérignon e Chateau Petrus aos convidados ocidentais, na frescura dos seus complexos. Alguns, protegidos por muros com 7 metros, diz quem sabe que lá por dentro se parecem com a nossa Sintra... Só de pensar nos milhões de euros de água necessária para fazer esse  efeito estremeço.

Agora por água, ali no Qatar não a há. Só a do marzinho, que é dessalinizada para todas as aplicações domésticas... Bichos que façam  mal ao intestino não tem, tal a catrefada de químicos que leva. Mas não sei se com o tempo de consumo não dará azias e umas úlcerazitas.

Por isso a malta Qatarense importa água engarrafada das montanhas da Arménia. Chega em camiões TIR, todos os dias.

Acabo como como começei esta conversa: um outro planeta. Muita massa, calor em barda, uma vida perfeitamente artificial, fora do meio ambiente natural. Resta apenas acrescentar que a febre de construção de arranha-céus, complexos de escritórios e recintos desportivos e mais não sei quê, é tão grande que envergonharia José Sócrates no auge da sua demência construtora de Auto-estradas... e isto é dizer muito.

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