sexta-feira, novembro 12, 2010

Para Descansar a Vista

Basta de negrumes e tempestades!

Pedem-me alguns leitores relativamente insatisfeitos pelo caminho dos infernos que esta rúbrica das Sextas estava a tomar.

Alma é preciso! Arranje-se forma de nos tornarmos mais bem dispostos com a fantasia, que para a realidade já basta assim...

Eu não sou contra essa maneira de estar, pelo contrário...O problema é que tenho algum receio que as pessoas se esqueçam do abismo e alegremente dêem o tal passo em frente... Bom, pelo menos será alegremente...

E cá vai poema de alegria, mas com um pouco de "batota"... Ora leiam sff. Desta alegria raivosa e combativa é que nós precisamos!


Alegria

De passadas tristezas, desenganos
amarguras colhidas em trinta anos,
de velhas ilusões,
de pequenas traições
que achei no meu caminho...,
de cada injusto mal, de cada espinho
que me deixou no peito a nódoa escura
duma nova amargura...

De cada crueldade
que pôs de luto a minha mocidade...

De cada injusta pena
que um dia envenenou e ainda envenena
a minha alma que foi tranquila e forte...

De cada morte
que anda a viver comigo, a minha vida,
de cada cicatriz,
eu fiz
nem tristeza, nem dor, nem nostalgia
mas heróica alegria.

Alegria sem causa, alegria animal
que nenhum mal
pode vencer.

Doido prazer
de respirar!

Volúpia de encontrar
a terra honesta sob os pés descalços.

Prazer de abandonar os gestos falsos,
prazer de regressar,
de respirar
honestamente e sem caprichos,
como as ervas e os bichos.

Alegria voluptuosa de trincar
frutos e de cheirar rosas.

Alegria brutal e primitiva
de estar viva,
feliz ou infeliz
mas bem presa à raíz.

Volúpia de sentir na minha mão,
a côdea do meu pão.

Volúpia de sentir-me ágil e forte
e de saber enfim que só a morte
é triste e sem remédio.

Prazer de renegar e de destruir
o tédio,
Esse estranho cilício,
e de entregar-me à vida como a
um vício.

Alegria!  Alegria!

Volúpia de sentir-me em cada dia
mais cansada, mais triste, mais dorida
mas cada vez mais agarrada à Vida!

Fernanda de Castro

Um comentário:

Anônimo disse...

www.fernanda-decastro.blogspot.com