sexta-feira, novembro 05, 2010

Para Descansar a Vista

Sai poema de Sexta. Pensei bastante no mote para hoje. O FMI declara-nos "País Falido", o Ministério da Saúde parece que terá soprado para baixo de alguma carpete o desastre das suas contas  deficitárias passadas (fala-se de mais de  mil milhões)... E convém que se faça alguma coisa antes que a República Popular da China nos compre a todos, mais à nossa Dívida Soberana....

O mote tem de ser adequado à "saison" que atravessamos. Que tal este: "Já Portugal não sou..."

Já Bocage não sou!...

Já Bocage não sou!... À cova escura
Meu estro vai parar desfeito em vento...
Eu aos céus ultrajei! O meu tormento
Leve me torne sempre a terra dura.

Conheço agora já quão vã figura
Em prosa e verso fez meu louco intento.
Musa!... Tivera algum merecimento,
Se um raio da razão seguisse, pura!

Eu me arrependo; a língua quase fria
Brade em alto pregão à mocidade,
Que atrás do som fantástico corria:

Outro Aretino fui... A santidade
Manchei!... Oh! Se me creste, gente ímpia,
Rasga meus versos, crê na eternidade!

Bocage

Soneto do Desalento

Às vezes oiço rir, é ’ma agonia
Queima-me a alma como estranha brasa
Tenho ódio à luz e tenho raiva ao dia
Que me põe n’alma o fogo que m’abrasa!

Tenho sede d’amar a humanidade…
Eu ando embriagada… entontecida…
O roxo de maus lábios é saudade
Duns beijos que me deram n’outra vida!

Eu não gosto do Sol, eu tenho medo
Que me vejam nos olhos o segredo
Que só saber chorar, de ser assim…

Gosto da noite, imensa, triste, preta,
Como esta estranha e doida borboleta
Que eu sinto sempre a voltejar em mim!

Florbela Espanca - Trocando olhares

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