quarta-feira, novembro 18, 2015

Contabilidade de cemitério



Leitores fiéis queixam-se da falta de "anedotas" aqui no Blog. No que têm alguma razão. Mas os tempos não têm sido os mais adequados para galhofar, como compreenderão.

Mas tal como o verdadeiro herói (dizem que ) ri em frente ao perigo, também me parece salutar exercer o direito à boa disposição. Nem que seja também para demonstrar que no estado de espírito da malta não mandam terroristas. Era o que faltava!

As últimas coisas com graça aconteceram-me na véspera do dia dos fiéis defuntos (pôrra!) a caminho do cemitério. As "santas" tinham ido às flores para decorar as campas , tarefa que já era penosa para o vosso "escriba" quando elas tinham sessenta anos. Imaginem agora com mais de 80...

A florista do mercado de Cascais  já as conhece de "ginjeira"  e não tira a vista de cima de ambas. Isto porque têm a mania de abrir o celofane para mexer nas orquídeas e só depois de abertas 3 ou 4 embalagens se decidem por comprar uma. E elas ainda se "enxofram" com as descompusturas que levam:

-" As senhoras não mexam nos pés de orquídea porque depois já ninguém as compra! É sempre a mesma coisa!"
- "Era o que faltava comprarmos sem ver primeiro se as orquídeas estão bem coladas ao ramo!"
- "Mas ver não é mexer!"
- " E acha que com 85 anos cada uma,  vemos como quando tínhamos a sua idade? "

Chegadas ao cemitério começa a cega rega das gorjetas aos coveiros, que se apresentam logo à porta quando veêm o carro chegar.  São 10 euros para os dois  "chefes" e 5 euros para cada um dos 5 "índios". Já foi mais, mas agora defendem-se com a "crise".

Pelas contas feitas por mim  (ou por qualquer outra pessoa normal no local) 10 euros vezes 2  mais 5 euros vezes 5 é igual a 45 euros. A dividir por duas "anciãs" dá 22,5 euros a cada uma.

Certo? Errado!!

É que as contas não são feitas assim... Têm a ver com o número de campas a cargo de cada uma . E como a minha mãe tem mais uma campa do que a minha tia, cabe-lhe a ela pagar mais.  Três campas para uma, duas campas para outra. Ora isto dará 27 euros para a minha mãe e 18 euros para a minha tia.

O meu receio (que nem sequer pronuncio em voz alta) é o de que qualquer dia queiram fazer estas contas tendo por métrica o número de falecidos (ossadas) em cada campa. Isso é que seria ainda mais interessante...

Assunto resolvido? Não senhores. Porque ainda falta acertar o valor das flores. As flores custaram 25 euros (dois ramos) . Foi a minha tia que as pagou, pelo que a minha mãe tem que lhe dar 12,5 euros.

Tudo correcto agora? Nem por isso...

Porque quem adiantou o dinheiro (tinha de estar trocado) para as gorjetas aos "homens da pá" foi a minha mãe. Pelo que a minha tia teria que  lhe dar 18 euros.

Em conclusão:  a minha tia apenas lhe devolveu 18 euros menos 12,5 euros. O que dá 5 euros e meio.

Acabou aqui este "filme"?

Isso é que era bom...

Chegado a casa é a cena que se repete todos os anos.  Normalmente dou entre 15 minutos e meia hora para ver chegar a  "santa" mãe,  a entrar-me por ali dentro enquanto adianto o almoço,  aos berros que a irmã está sempre a enganá la!!

E como é possível ela ter pago aos coveiros e só ter recebido 5,5 euros de volta??!!

Pego num papel e lá tento fazer outra vez as contas todas: As flores, as sepulturas, as gorjetas aos chefes e aos índios, etc... Mas nunca até hoje consegui convencê-la.

Para o ano que vem já decidi. Sou eu que pago tudo. Não há cá divisões para ninguém!

E depois (mas isto não se diz) resolvo o assunto discretamente com recurso ao cartão de débito da santa mais próxima.

-" Oh mãe, dê-me aí sff o seu cartão para  eu ver amanhã se as pensões já estão na sua conta."

 Adiante que não estamos em Amarante. E viver só custa para quem não sabe viver.

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