quarta-feira, agosto 12, 2015

Atenção às Cartas! De condução...



Fui apanhado nesta história de ter de renovar a carta antes dos 60 anos, não valendo nada aquilo que está escrito e escarrapachado no dito documento de habilitação, o qual adiava para 2020 essa incumbência. E como ainda em Agosto faço os sessenta, fiquei um bocado enrascado.
Ainda pensei que o problema fosse eu ter tirado a carta em Junho de 1974, em pleno período revolucionário. Mas não. A lei mudou e é igual para todos. A malta que se aproxima dos 50, 60, 65 e 70 , tem que tratar da vidinha em relação a esta matéria.

Nada que uma dose de ACP (Automóvel Clube de Portugal) não resolva. Espero eu.

http://www.imtt.pt/sites/imtt/Portugues/Condutores/CartaConducao/revalidacao/Paginas/Revalidacao.aspx

O site atrás indicado é o o local útil para se informarem.

Esta situação trouxe-me à memória a história verídica (embora um pouco "embelezada" pelos cronistas posteriores) da figura de Cascais que foi o Sr. Zé da Ponte. O qual não se deve confundir com o músico algarvio Zé da Ponte, colega de Lena d'Água ,  recentemente falecido.

Pensa-se que o Zé da Ponte de Cascais teria a sua alcunha ligada à  Quinta da Ponte (no Cobre) propriedade da família Villar desde há muitos anos. Local nostálgico para aqueles que - como eu - lá iam no final dos anos 90 ao famoso Bar da Ponte fazer alguns estragos ao fígado e outras "iscas".
Leiam aqui sff um trecho retirado do site dos actuais proprietários:

A Quinta da Ponte foi adquirida em 1940 pelo Comendador Armando Penim Gomes Villar. Deve o seu nome à ponte que se crê ser de origem Romana, e que une desde há centenas de anos a povoação de Bom Sucesso de Alvide (assim se chamava Alvide antigamente) ao Cobre. Por aqui passavam as carroças carregadas de cereais que iam abastecer as azenhas da Ribeira das Vinhas.

Era o Sr. Zé da Ponte um homem da hotelaria, tendo trabalhado naquela escola de bem comer e bem servir que foi o "Restaurante-Bar Fim do Mundo" (hoje  Macdonald's) no largo da estação. Ainda hoje me lembro dos "Franguinhos Primavera" feitos com frangos de quinta, puxados em manteiga e alho, obra de arte do chefe João, que veio depois a exercer o seu métier no Beira Mar. Onde ainda se encontra e é um dos meus cozinheiros de excepção.

Mais tarde Zé da Ponte rumou ao Restaurante Apeadeiro e por ali ficou até passar o restaurante e reformar-se.

Não tinha carta de condução mas toda a vida conduziu.  Ninguém sabia desta situação, a não ser o próprio e talvez a mulher.

Antes do 25 de Abril, e dada a sua condição de restaurador bem relacionado com as figuras mais conhecidas da vida social de Cascais,  entendida horizontalmente - desde a peixeira e o pescador até ao Presidente da Câmara e à malta do Clube dos Milionários da Parada -  andava de cá para lá na sua velha carrinha sem ter problemas. Todos o conheciam, não passava pela cabeça de nenhum polícia mandá-lo parar, quanto mais pedir-lhe a carta. 

Depois veio a revolução, os polícias conhecidos reformaram-se, havia o medo das "G3" em mãos de não se sabia bem quem. E várias operações Stop foram feitas nessa altura em Cascais e no Estoril  para inspeccionar os carros que circulavam na Marginal. 

Uma vez vinha o Sr. Zé no carro com o genro - história que ouvi da boca do mesmo genro - quando se deparou com uma operação Stop da GNR.  Um bocado aflito , pois "o mundo mudara", pediu ao genro que passasse para o volante.  
Mas já não iam a tempo. O genro riu-se e disse-lhe:

-" Sogro, se se esqueceu da carta deixe lá que a podemos apresentar de tarde na esquadra".
 - "Não é isso pôrra!"
- "Então o que é que o está a preocupar?"
- "Não tenho carta!"
- "Mas vamos buscá-la a casa..."
- "Pôrra! Nunca a tirei carago!"


Como conclusão, e para não alargar mais esta história (o intercâmbio com  a GNR  terá sido de gargalhada, com o guarda a pensar que o velhote estava a gozar com ele e com o outro tão aflito que quase perdera a fala) foi feito o auto da transgressão e o processo seguiu para o tribunal.

No dia do julgamento, encontrando-se o velho tribunal de Cascais cheio devido à notoriedade do caso, o juiz perguntou-lhe a idade.

-"73 anos Sr. Doutor Juíz"
- " E tem carro desde que idade?"
- "Desde os 30 anos Sr. Doutor".
- "E nunca esteve habilitado a conduzir?"
-" Não Senhor. Nunca fui para longe. Era só para a minha vida profissional, para ir às compras."
- "E quantas infracções ou acidentes , multas, etc...teve nesse tempo todo?"
 - "Nenhuma Sr. Doutor Juiz".
- "Em 43 anos a conduzir nunca teve qualquer tipo de acidente ou multa?"
- "Saiba que não senhor".
- " Vai absolvido. Tomaram os que têm hoje carta conduzirem como o Senhor!"

Com pedidos de desculpa - sobretudo à família dos visados -  pelas simplificações e traços mais caricaturais, aqui fica esta "estória" antiga de Cascais. 

Pessoalmente acho-a uma delícia!

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