sexta-feira, novembro 15, 2013

Para Descansar a Vista

Nesta Sexta feira fria de Novembro já sabem bem as castanhas assadas...

Venha de lá um poeta do Norte para aconchegar o espírito. Do enorme Torga aqui vos deixo um poema de Amor (quase)...

Quase um Poema de Amor

Há muito tempo já que não escrevo um poema 
De amor. 
E é o que eu sei fazer com mais delicadeza! 

A nossa natureza Lusitana 
Tem essa humana Graça Feiticeira 
De tornar de cristal 
A mais sentimental 
E baça Bebedeira. 

Mas ou seja que vou envelhecendo 
E ninguém me deseje apaixonado, 
Ou que a antiga paixão 
Me mantenha calado 
O coração 
Num íntimo pudor, 

Há muito tempo já que não escrevo um poema 
De amor.

Miguel Torga

 

Um comentário:

Américo Oliveira disse...

Pois aqui vai um poeta do norte:

A trinta e cinco reis custa a pescada:
O triste bacalhau a quatro e meio:
A dezasseis vinténs corre o centeio:
Do verde a trinta reis custa a canada.

A sete, e oito tostões custa a carrada
Da torta lenha, que do monte veio:
Vende as sardinhas o galego feio
Cinco ao vintém; e seis pela calada.

O cujo regatão vai com excesso,
Revendendo as pequenas iguarias,
Que da pobreza são todo o regresso.

Tudo está caro: só em nossos dias,
Graças ao Céu! Temos em bom preço
Os tramoços, o arroz e as Senhorias.

[Paulino Cabral de Vasconcelos (1719-1789), Abade de Jazente]