sexta-feira, abril 12, 2013

Para Descansar a Vista

Dizem os historiadores mais "patrióticos" que D. João II teria sido o primeiro homem a saber com certeza de que tamanho era o mundo. Obviamente que não foi. Mesmo que se admitisse que teria sido a circum-navegação da Àfrica a dar-lhe essa ideia, juntamente com as viagens por terra de Pêro da Covilhã e Afonso de Paiva.

Claro que foi quem recolheu esses relatos e quem os analisou antes de dar o resultado a el-rei que ficou primeiro a saber a tal novidade em primeira mão. E depois, provavelmente o sábio geógrafo disse à mulher, aos parentes mais chegados e discutiu o assunto com os colegas...Com sorte D. João II teria sido para aí o 5º ou 6º indivíduo a saber a novidade!

A conversa começa por aqui porque não sei se sabem que hoje se comemora o aniversário do voo solitário de Yuri Gagarin (1962), o 1º homem a viajar pelo espaço. E tal como ficou nos livros e na história a frase de Neil Armstrong quando chegou à Lua, também o grito de espanto de Gagarin quando espreitou a Terra pela primeira vez faz já parte dos mesmos compêndios, embora dito em russo, o que - se pensarmos bem  - foi capaz de diminuir o âmbito da respetiva divulgação...

Qual foi esse grito?   -"A Terra é azul!"

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À memória de Gagarin, o 1º Homem a saber que vivíamos num Planeta Azul, aqui ficam os poemas de hoje. Primeiro, de Alberto Caeiro\Fernando Pessoa uma pequena jóia:

Aceita o Universo

Aceita o universo
Como to deram os deuses.
Se os deuses te quisessem dar outro
Ter-to-iam dado.


Se há outras matérias e outros mundos
Haja.


Alberto Caeiro, in "Poemas Inconjuntos"
Heterónimo de Fernando Pessoa


E depois, de meu Mestre Borges,  um poema a um gato! É admissível que Gagarin, camponês de Klushino que sempre sonhou ser piloto-aviador, tivesse em criança um gato, e que fosse com ele ao colo que sonhava espaço e liberdade em queda -livre...

A um gato

Não são mais silenciosos os espelhos
nem mais furtiva a alba aventureira;
és, debaixo da lua, essa pantera
que nos é dado ver de longe.

Por obra indecifrável de um decreto
divino, buscamos-te com vaidade;
mais remoto que o Ganges e o poente,
é tua a solidão, teu o segredo.

O teu lombo condescende à morosa
carícia da minha mão receosa.

Estás em outro tempo.

 És o dono
de um espaço fechado como um sonho.


Jorge Luis Borges

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