sexta-feira, julho 25, 2014

Para Descansar a Vista...sem olhos salgados...

Os antigos e modernos dietistas e cardeologistas sempre nos avisaram contra o abuso do sal... 
Sal a mais faz mal! Sal a mais mata.

Durante anos a população lusa viveu um bocado à revelia destas indicações.  E eu que o diga, porque sempre fui adepto da comida "picadinha ao sal".

Salgado é que era! Avia-lhe salgado porque de outra maneira nem o bacalhau sabe a nada!

Depois de tanto abuso parece finalmente que houve quem pusesse mão nisto, limitando definitivamente o nível de salgados na nossa economia ( digo, alimentação).

Também foram anos a mais a temperar de mão pesada!

Cá vai então poema para amenizar o Verão de caretas e apoiar a saúde nacional (com menos sal).

De José Jorge Letria um magnífico poema .  Mas com várias interpretações. Imaginem por exemplo o título mais adequado às circunstâncias: A Minha Saudade tem o Salgado Aprisionado...

A Minha Saudade Tem o Mar  Aprisionado

A minha saudade tem o mar aprisionado
na sua teia de datas e lugares.
É uma matéria vibrátil e nostálgica
que não consigo tocar sem receio,
porque queima os dedos,
porque fere os lábios,
porque dilacera os olhos.
E não me venham dizer que é inocente,
passiva e benigna porque não posso acreditar.
A minha saudade tem mulheres
agarradas ao pescoço dos que partem,
crianças a brincarem nos passeios,
amantes ocultando-se nas sebes,
soldados execrando guerras.
Pode ser uma casa ou uma rede
das que não prendem pássaros nem peixes,
das que têm malhas largas
para deixar passar o vento e a pressa
das ondas no corpo da areia.
Seria hipócrita se dissesse
que esta saudade não me vem à boca
com o sabor a fogo das coisas incumpridas.
Imagino-a distante e extinta, e contudo
cresce em mim como um distúrbio da paixão.

José Jorge Letria, in "A Metade Iluminada e Outros Poemas


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