O "ir vivendo" , numa tradução livre do pensar e do sentir de quem fala assim, deve significar mais ou menos isto:
- "Olhe, muito obrigado por ter perguntado. Falta dinheiro para gastar e trazer qualidade à minha vida. O miúdo precisa de óculos e de livros para a escola, a minha sogra queixa-se dos preços dos medicamentos e dos médicos, a patroa e eu já não vemos a cor de uma cadeira de cinema há mais de um ano. E tive de reduzir a TV Cabo ao mínimo possível."
"Ir vivendo" é mais "Ir sobrevivendo". Significa ter de abdicar dos pequenos prazeres da vida para nos concentrarmos naquelas despesas que são obrigatórias e imprescindíveis. Significa que já não há espaço para o supérfluo na nossa vida.
Talvez seja mal comparado, mas não posso deixar de pensar que esta situação tem semelhanças com o que se passa com a Arte, a Ciência e a Cultura, que são quem mais sofre em alturas de aperto financeiro dos países. Tem de haver dinheiro para a assistência social, para as escolas, para o fundo de desemprego. As Artes podem esperar. A Ciência não é prioridade. A Cultura é um luxo dos países ricos.
Não sei se todos compreendem o enorme perigo de nos deixarmos embalar por esta filosofia mercantilista?

Foi feita uma petição pública sobre esta matéria no início de 2014, cujo texto não pode estar mais actual. Leiam aqui sff:
http://peticaopublica.com/pview.aspx?pi=manifestocontracrise
"A política cultural deve ser um vector decisivo na construção do modelo de desenvolvimento contemporâneo de uma nação. Arte, ciência e cultura são essenciais aos sistemas de inovação de uma sociedade. A sua força simbólica e dinâmica económica produzem aprofundamento da cidadania, qualificação de ambientes sociais, sustentabilidade, respeito pela diversidade e redução de níveis de violência direta. É através dos valores culturais que cada pessoa desenvolve o seu reconhecimento próprio e o seu lugar na sociedade."
Não fui eu que o disse. Está nos programas de desenvolvimento da ONU...
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