quarta-feira, maio 15, 2013

As Obrigações Sociais na Crise

As "obrigações sentimentais por decreto" raramente têm aceitação livre e espontânea por parte das pessoas envolvidas.  Recordo que o povo já dizia antigamente que "Obrigação era a do carrasco", tudo o mais deve fazer-se apenas se quisermos, mas incluindo obviamente as consequências da decisão.

Não pagas impostos? Levas com o ordenado, o carro e depois até a casa penhorados...

Não ligas aos avisos dos médicos? Então vai queixar-te ao coveiro.

Não te empenhas nessa relação sentimental? Levas com um  par de c**** tão grande  que até pareces um troféu de caça...

Penso que já entenderam:  Todo o crime merece castigo, toda a verdade merece ser louvada, todas as boas acções recompensadas,  toda a mulher merece ser amada...

Andamos poucos anos nesta Terra pelo que é nossa "obrigação" facilitar a vida aos que nos rodeiam, traçando uma espécie de círculo virtuoso no segmento das nossas relações que, quando em sintonia com os outros círculos semelhantes, faria das sociedades antecâmaras do paraíso (qualquer que seja a crença).

Pelo menos isto seria o que um universo bem feito daria de sobremesa aos seus usufruários.

Mas não!

Grande parte dos mortais, nossos compagnons de route,  está-se lixando para o Karma e vive habilidosamente, tentando passar em seco por entre os intervalos da  chuva.

Desta forma co-existem nas nossas sociedades as figuras interessantes dos  chicos-espertos (invenção lusa), dos plagiadores, dos moinantes, dos chulecos, dos golpistas,  e de outros mandriões e tunantes, aproveitadores das oportunidades que as leis mal-feitas lhes dão, espreitando sempre até onde podem iludir as regras, vivendo de subterfúgios e de aparências.

E o mais interessante é que durante muito tempo foi esta gente  considerada como "heróis" pela restante populaça que pagava atempadamente os seus impostos e religiosamente seguia os preceitos dos diversos códigos (Civil, Criminal e etc...).

As leis "eram feitas pelos ricos e para os pobres" dizia-se muitas vezes. E esta convicção, quando aliada à opressão da ditadura, muitas vezes levava a sociedade informal a aplaudir os que fugiam ao controle do Estado.

Essa mesma sociedade portuguesa - depois de um interregno em que a civilidade e as obrigações sociais à moda do Norte da Europa talvez tivessem tomado raiz, depois do 25 de Abril  - está hoje outra vez completamente descrente e não faltará muito para que de novo tome o partido silencioso dos  "Robins dos Bosques" com comportamentos anti-sociais.

E esse é um dos perigos desta austeridade sem parança: tornar os cidadãos opositores do regime em todas as suas vertentes. Quando não se consegue compreender a razão profunda  por detrás das decisões que empobrecem cada vez mais quem trabalha e dão descanso a quem detém o capital,  de que é que se está à espera?

Just Deserts...

Nota: Just Deserts is a  a punishment or reward that is considered to be what the recipient deserved (Oxford Dictionary)

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