quinta-feira, maio 09, 2013

A morte e a copaneira de mão dada na Queima

O artigo que João Miguel Tavares assina hoje na última página do Público (até quando se publicará este excelente jornal? É aproveitar enquanto o Engenheiro não apertar os cordões à bolsa) deve ser bem lido e bem analisado.

Chama-se: Marlon morreu. Vamos ao Concerto?

E debate a decisão da Associação Académica de não interromper a Queima e suas festividades para honrar o jovem estupidamente assassinado, o tal atleta que tinha vindo da Venezuela para Portugal porque lá as pessoas não se sentiam seguras nas ruas...

Muito bem escrito este artigo, onde bebedeira rima com brincadeira e com atividade festivaleira. Onde se estigmatizam as práticas das "queimas" baseadas no consumo absurdo de cerveja e de vinho e nos "batizados" báquicos dos desgraçados dos caloiros, a quem os "inteligentes" obrigam a beber até vomitarem.

Sei bem do que estou a falar porque perto de minha casa existe um café de bairro  que serve bebidas a estudantes a preços especiais  , e que se encontra de tal modo cheio nesta época do ano que impede a passagem dos carros naquelas ruas meio apertadas do Estoril antigo.

A estudantada - que julgo pertencer à escola de Hotelaria e Turismo  do Estoril - passa as horas a dar a volta ao quarteirão onde moro, berrando e cantando as trovas habituais, bebendo muito, partindo garrafas de cerveja pelas ruas e acabando a festa com a também habitual "ida ao Gregório" na via pública.

Ontem, quando regressei a casa de uma cerimónia, pelas 2330h,  a festa estava já no fim. Não por falta de vontade, mas porque os "impetrantes" já nem sequer conheciam as mães, quanto mais acertarem com o buraco da boca ao levarem a garrafa acima das cabeças... Duas miúdas estavam deitadas no chão e alguns rapazes sentados no degrau do tal café esperavam pela recuperação das colegas. Ao menos isso.

Encaro filosoficamente estes dislates, porque já tive aquela idade e também abusei em certas alturas, embora não me lembre de ter sido tão "soltinho" como esta malta de agora. E nem sequer critico muito o dono do café, porque me disse que se não fossem estas noites de festa já tinha encerrado.

O que critico - e aqui acompanho o colunista do Público - é que não se tenha dado um sinal de respeito pela morte do jovem Marlon lá em cima na Invicta. Pelo menos por um dia, no 1º dia da queima, deveria a "festa" ter sido interrompida.

Mas há interesses económicos e financeiros importantes nestas andanças, e o poder da Super Bock ou da Sagres depressa ultrapassa pruridos morais. E a mensagem que se lança para a rua é esta:  Conhecíamos bem o  Marlon.  Ele  gostaria que não se alterasse nada!

Mas como não há hipótese de falar com os mortos - por muito álcool que se emborque  - nunca saberemos mesmo , mesmo, a vontade do assassinado não é verdade?

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