sexta-feira, fevereiro 08, 2013

Para Descansar a Vista ... A ver o Carnaval passar...

Sempre abominei esta quadra. Apesar de ser do Estoril e dos meus pais (mais ideia da  santa, coisa que nunca lhe perdoei) me obrigar a mascarar nos meus verdes anos para "irmos ao corso".

Nessas alturas Teodoro dos Santos tinha uma verdadeira indústria "de Entrudo" montada nos seus barracões lá para Alcoitão, local de onde desciam os carros alegóricos para fazerem por diversas vezes o contorno do jardim do Casino Estoril nas tardes de Domingo, Segunda e Terça-Feira gorda.

Depois dessas lides - que a mim, pessoalmente,  ainda  me causaram psicoses tardias -  e na altura em que ainda havia dias Feriados (!!) lembro-me bem que os CTT trabalhavam na Terça Feira de Carnaval, a troco da véspera do Natal , combinação essa que estava inscrita em AE. A "malta" que via o carteiro fardado a entregar correspondência nesse dia,  para gozar com o triste ainda por cima  lhe chamava  "mascarado".

Nós, que tínhamos de vir trabalhar mas pouco fazíamos nessa Terça-Feira, distraímo-nos de outras formas. A Manuela andava pelos corredores da Casal Ribeiro  a correr atrás do Sr. Novo para o maquilhar, alguns dos outros colegas ( a Jú, a Isabel Galrito) não deixavam de aparecer com caraças , bigodes ou barbas, cenouras a aparecer no meio das carcelas das calças,  e etc...

Havia uma tradição em relação ao almoço nesse dia. Normalmente eu e mais uns colegas ( o Carlos Bernardo, a Fátima) pirávamo-nos para o Gambrinus para almoçar a  Cabeça de Porco com Feijão, prato emblemático de Terça-Feira gorda naquela casa , encerrando o ciclo da folia e avisando pelo exagero das doses e pela matéria prima um bocado excessiva, que a Quaresma estava próxima.

Por isto tudo, mal feito fora que o tema do poema de hoje não fosse mesmo o Sr. Entrudo.

 O Capitão do Mato Vinicius de Moraes dá-nos aqui  um soneto - aliás admirável! - mas que  de carnavalesco só tem o nome.

Eu bem os avisei que não gostava de Carnaval!

Soneto de Carnaval

Distante o meu amor, se me afigura
O amor como um patético tormento
Pensar nele é morrer de desventura
Não pensar é matar meu pensamento.

Seu mais doce desejo se amargura
Todo o instante perdido é um sofrimento
Cada beijo lembrado é uma tortura
Um ciúme do próprio ciumento.

E vivemos partindo, ela de mim
E eu dela, enquanto breves vão-se os anos
Para a grande partida que há no fim

De toda a vida e todo o amor humanos:
Mas tranquila ela sabe, e eu sei tranquilo
Que se um fica o outro parte a redimi-lo.

Vinicius de Moraes, in 'Antologia Poética'





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