Nessas alturas Teodoro dos Santos tinha uma verdadeira indústria "de Entrudo" montada nos seus barracões lá para Alcoitão, local de onde desciam os carros alegóricos para fazerem por diversas vezes o contorno do jardim do Casino Estoril nas tardes de Domingo, Segunda e Terça-Feira gorda.
Depois dessas lides - que a mim, pessoalmente, ainda me causaram psicoses tardias - e na altura em que ainda havia dias Feriados (!!) lembro-me bem que os CTT trabalhavam na Terça Feira de Carnaval, a troco da véspera do Natal , combinação essa que estava inscrita em AE. A "malta" que via o carteiro fardado a entregar correspondência nesse dia, para gozar com o triste ainda por cima lhe chamava "mascarado".
Nós, que tínhamos de vir trabalhar mas pouco fazíamos nessa Terça-Feira, distraímo-nos de outras formas. A Manuela andava pelos corredores da Casal Ribeiro a correr atrás do Sr. Novo para o maquilhar, alguns dos outros colegas ( a Jú, a Isabel Galrito) não deixavam de aparecer com caraças , bigodes ou barbas, cenouras a aparecer no meio das carcelas das calças, e etc...
Havia uma tradição em relação ao almoço nesse dia. Normalmente eu e mais uns colegas ( o Carlos Bernardo, a Fátima) pirávamo-nos para o Gambrinus para almoçar a Cabeça de Porco com Feijão, prato emblemático de Terça-Feira gorda naquela casa , encerrando o ciclo da folia e avisando pelo exagero das doses e pela matéria prima um bocado excessiva, que a Quaresma estava próxima.
Por isto tudo, mal feito fora que o tema do poema de hoje não fosse mesmo o Sr. Entrudo.

O Capitão do Mato Vinicius de Moraes dá-nos aqui um soneto - aliás admirável! - mas que de carnavalesco só tem o nome.
Eu bem os avisei que não gostava de Carnaval!
Soneto de Carnaval
Distante o meu amor, se me afigura
O amor como um patético tormento
Pensar nele é morrer de desventura
Não pensar é matar meu pensamento.
Seu mais doce desejo se amargura
Todo o instante perdido é um sofrimento
Cada beijo lembrado é uma tortura
Um ciúme do próprio ciumento.
E vivemos partindo, ela de mim
E eu dela, enquanto breves vão-se os anos
Para a grande partida que há no fim
De toda a vida e todo o amor humanos:
Mas tranquila ela sabe, e eu sei tranquilo
Que se um fica o outro parte a redimi-lo.
Vinicius de Moraes, in 'Antologia Poética'
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