sexta-feira, fevereiro 25, 2011

Para Descansar a Vista

É Sexta Feira, já se sabe que sai Poema.  Hoje dedicado à Palavra. Não à Palavra que comunica sabedoria e magia, mas sim à Palavra verbo de encher, flatulenta, enganosa e traiçoeira. A Palavra dos maus políticos e dos falsos profetas (no fim de contas é tudo "feijão do mesmo saco"...)


Vejam como Sophia  recriou há anos atrás um dos principais pecados da nossa era, a demagogia da Palavra que engana os tolos, subverte as escolhas e se perpetua no poder à custa dela própria:

Com Fúria e Raiva

Com fúria e raiva acuso o demagogo
E o seu capitalismo das palavras

Pois é preciso saber que a palavra é sagrada
Que de longe muito longe um povo a trouxe
E nela pôs sua alma confiada

De longe muito longe desde o início
O homem soube de si pela palavra
E nomeou a pedra a flor a água
E tudo emergiu porque ele disse

Com fúria e raiva acuso o demagogo
Que se promove à sombra da palavra
E da palavra faz poder e jogo
E transforma as palavras em moeda
Como se fez com o trigo e com a terra

Sophia de Mello Breyner Andresen, in "O Nome das Coisas"

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