sexta-feira, fevereiro 05, 2010

Para Descansar a Vista


Quem se Lembra de Reynaldo (ou Reinaldo) Ferreira? Mas da "Menina dos Olhos Tristes" quem não se lembrará? Um Poeta colhido pela mala suerte, morto aos 37 anos, Moçambicano de adopção. E como temos estado numa de Cavalos aqui vai um dos seus poucos poemas que existe fora do âmbito das canções: "Quero Um Cavalo de Várias Cores".

Eu também queria...

Biografia de Reinaldo Ferreira, da Imprensa Nacional de Moçambique:

Nascido em Barcelona, a 20 de Março de 1922, Reinaldo Ferreira, de seu nome completo Reinaldo Edgar de Azevedo e Silva Ferreira, era filho do jornalista Reinaldo Ferreira, o celebrado Repórter X .
Tendo vindo para Moçambique (Lourenço Marques) em fins do ano de 1941 e aqui feito o sétimo ano dos liceus, por cá se conservou, com raras e breves escapadas à Metrópole, até Junho de 1959, data do seu falecimento.

Em Março do mesmo ano declara-se-lhe um cancro de pulmão que quase fulminantemente o arrebatou.

A pouco mais do que isso se resumirá a biografia de Reinaldo Ferreira, se por biografia entendermos o conjunto de acidentes que mais vulgarmente dão nas vistas. Biografia, portanto, como tantos, quase a não tem ou a tem predominantemente interior. Obra também a não deixou publicada e o melhor que se fez é o que agora aqui se publica. Por ironia do destino o que mais alargou as fronteiras do seu nome foi o que de menos valor ele nos legou: colaboração em algumas revistas musicais, letra de uma ou outra canção de grande êxito (Menina dos Olhos Tristes, Uma Casa Portugesa) , teatro radiofónico, pouco mais.

 Sabe-se, sabem-no os amigos que com ele mais de perto privaram, que o teatro o seduzia: nele se ensaiara já, sendo certo que exista pelo menos o testemunho de uma (se não mais) sua incursão neste domínio. Muito seria quiçá de esperar neste capítulo, mas para tanto lhe foi pouca a vida.

Quero um cavalo de várias cores

Quero um cavalo de várias cores,
Quero-o depressa, que vou partir.
Esperam-me prados com tantas flores,
Que só cavalos de várias cores
Podem servir.

Quero uma sela feita de restos
Dalguma nuvem que ande no céu.
Quero-a evasiva - nimbos e cerros -
Sobre os valados, sobre os aterros,
Que o mundo é meu.

Quero que as rédeas façam prodígios:
Voa, cavalo, galopa mais,
Trepa às camadas do céu sem fundo,
Rumo àquele ponto, exterior ao mundo,
Para onde tendem as catedrais.

Deixem que eu parta, agora, já,
Antes que murchem todas as flores.
Tenho a loucura, sei o caminho,
Mas como posso partir sozinho
Sem um cavalo de várias cores?

Reynaldo Ferreira
1922/1959

Um comentário:

Anônimo disse...

Como parece que o "SOL" não será uma das suas fontes de leitura, aqui vai mais uma conversa de restaurante(?). Não há pior cego do que o que não quer ver (ou não lhe interessa ver...).
‘Face Oculta’, (...)estava em curso um ‘plano’, com o primeiro-ministro à cabeça, para controlar a TVI e outros media
A explicação surge de forma simples e sem margem para dúvidas: surgiram «indícios muito fortes da existência de um plano em que está directamente envolvido o Governo, nomeadamente o senhor 1º ministro» , visando «a interferência no sector da comunicação social e afastamento de jornalistas incómodos». Isto a três meses das eleições legislativas e com «prejuízo» para a PT.
(...)
São estes despachos – até agora desconhecidos,– que o SOL revela e publica nesta edição. A sua leitura integral, (...) permite perceber as razões por que dois magistrados consideraram que devia ser instaurado um inquérito que visaria directamente o 1º ministro e gestores da área do PS.
O primeiro alerta foi dado no dia (...)Entre as vigilâncias e escutas telefónicas montadas aos arguidos Armando Vara e Paulo Penedos – suspeitos, de colaborar nos crimes de corrupção e tráfico de influências (...) Em causa estavam as conversas de Paulo Penedos, dirigente do PS e assessor da PT, e de Armando Vara, dirigente socialista e então vice-presidente do BCP. O primeiro falava com o administrador executivo Rui Pedro Soares – seu superior hierárquico e que no dia 3 de Junho fora a Madrid num avião a jacto, falar com a Prisa, proprietária da TVI – e outros altos quadros da empresa. Vara falava com empresários e com o 1º ministro, José Sócrates. Percebia-se que havia já um «negócio»,de aquisição de parte da TVI pela PT, de uma forma encapotada.

No dia 23 de Junho, o procurador mandou extrair certidão para se abrir um inquérito a estes factos. E justificou: há «fortes indícios da existência de um plano em que está directamente envolvido o Governo para interferência no sector da comunicação social visando o afastamento de jornalistas incómodos e o controlo dos meios de comunicação social». Um plano que se «concretizaria através de uma rede instalada nas grandes empresas e no sistema bancário» e que recorria até «a prestação de informações falsas às autoridades de supervisão».

O magistrado explicava ainda que a precipitação dos acontecimentos (o negócio iria ser assinado daí a dois dias) obrigava a avançar com urgência para a investigação. Para isso, pedia ao juiz de instrução que autorizasse a extracção de cópias das escutas, bem como dos relatórios policiais com os respectivos resumos. Nestas estavam incluídas as conversas de Vara com Sócrates.

O juiz, António Gomes, aceitou esta valoração das provas e disse mesmo que existiam «indícios muito fortes» – autorizando as cópias dos documentos e das escutas.

Estas duas certidões foram de imediato remetidas «em mão para superior apresentação», uma vez que o Ministério Público (MP) de Aveiro não tinha competência territorial para tal, além de estar em causa o primeiro-ministro. Seguiram-se, nos meses seguintes, mais seis certidões, que incluíam outras escutas telefónicas entretanto surgidas sobre o assunto e também documentos pedidos pelo procurador-geral da República (PGR), Pinto Monteiro. (...)
Como se sabe, estas certidões foram apreciadas pelo PGR e por Noronha Nascimento, por estar em causa José Sócrates. Em Setembro e em Novembro, ambos consideraram não haver razão para instaurar um inquérito – um contraste muito grande com as argumentações do procurador e do juiz de Aveiro.
(...)
Noronha mandou destruir essas escutas e foi mais longe, num despacho divulgado em Dezembro: «O conteúdo [das escutas] em que interveio o primeiro-ministro, não revela qualquer facto, circunstância, conhecimento ou referência, susceptíveis de ser entendidos ou interceptados como indício ou sequer como sugestão de algum comportamento com valor para ser ponderado em dimensão de ilícito penal».
... E o resto pode ler «in locco» se estiver, mesmo interessado.

João Matos Oliveira