A ASAE e a Sopa dos Pobres

Interrompo a análise política para dar algum descanso - a mim e aos leitores - e aproveito para comentar um caso menor:

A ASAE encerrou o Refeitório comunitário da cidade de Faro (a chamada Sopa dos Pobres) por ter encontrado algumas baratas mortas no chão do estabelecimento.

A Santa Casa da Misericórdia da cidade, proprietária , lamentou a decisão afirmando que

" deveria a ASAE colocar primeiro as Pessoas! Ainda no dia anterior ao encerramento fizémos uma desbaratização!"

Caso menor , sem dúvida, mas merecedor de alguma reflexão:

a) Em primeiro lugar, parece que nunca antes teve a Sopa dos Pobres tantos clientes como actualmente...Sinal dos tempos e da miséria encoberta que por aí grassa...

b) Depois, porque os pobres também são - por enquanto - "pessoas". Quero com isto dizer que não é por serem "pobres" que seriam obrigados a comer em locais não recomendados para os "remediados" e para os "ricos"...

c) Por fim, porque no meio destas confusões todas estou seguro que várias pessoas passaram fome a noite passada e vão hoje continuar a deitar-se com a barriga a dar horas. Entre eles decerto que se encontram velhos e crianças...

Como ser "pároco" de uma paróquia destas? Somos presos por ter cão e presos por não ter?

Reparem no tipo de argumentos que seria possível esgrimir:

"- Há 20 anos atrás quem se incomodava com três ou quatro baratazinhas no chão de uma cozinha urbana? Até davam colorido local à taberna! Casa sem baratas era casa sem comidinha!"

Diria o "saudosista"

" - Mais rato, menos rato; mais centopeia nos canos, menos osgas nas paredes; o certo é que ninguém (tanto quanto se saiba) morria disso.

Pelo contrário, havia ( e acho que ainda há) humanos que se alimentavam dessas criaturas, lá longe para os confins da China..."

Diria o "intelectual viajante de direita"

- Alto e pára o Baile que o 25 de Abril fez-se para Ricos e para Pobres! Se não há condições sanitárias para uns também não há para os outros? Mas que raio de Liberdade seria essa onde o Pobre se alimenta na enxovia e o rico na mesa do rei??!!

Diria o "Operário da Esquerda militante"

- Hoje em dia somos suficientemente ricos para dar importância a essas coisas da "higiene alimentar" e da conformidade com as regras da UE... Mas então que a "bota" esteja de acordo com a "perdigota" : em sociedades assim limpas e higienizadas não devia haver Pobres!!!

Diria o "intelectual de esquerda demagogo"

É claro - e isto digo eu - que seria sempre possível adoptar a notável política do Dr Salazar para resolver estes assuntos: Pobres na Mitra, escondidos da vista dos cidadãos. Lá dentro podia até haver ( e havia!) ratazanas e coisas do género, mas como estavam longe do olhar das "pessoas normais" não havia problema. E os Pobres estavam já habituados a lutar com essas bichezas nas lixeiras, disputando-lhes alguns restos de comida...

Afinal parece que sempre acabei a falar (outra vez) de Política...Nestes dias todos os caminhos vão dar a Roma!