sexta-feira, fevereiro 10, 2006

Uma pesquisa de João Araújo no Universo da WWW sobre a saga dos Cartoons

Com a devida vénia ao wunderblogos e a Soares Silva , Brasileiro dos 4 costados e Português de Alma:

Mohammad!
Muito tempo atrás tive a idéia de escrever um romance em que um político subpoeta, vagamente baseado em Sarney, traduzia Os Lusíadas para o francês. A tradução recebia algum prêmio qualquer na França; ele ia lá receber o prêmio, fardado e pimpão; e nesse momento as autoridades muçulmanas descobriam que no livro, Canto I, estrofe 99, Maomé é chamado de torpe -


O mesmo o falso Mouro determina
Que o seguro Cristão lhe manda e pede;
Que a Ilha é possuída da malina
Gente que segue o torpe Mahamede...


- e agora eu tinha duas opções: na opção A, eles instituíam uma fatwa contra
Camões, sequestravam o para-Sarney e o torturavam, exigindo que ele dissesse onde estava o poeta renascentista; e na opção B eles lançavam a fatwa contra o próprio quase-Sarney, achando que ele era o autor do livro.

Em todo caso ele era perseguido, morria de medo, era torturado, pedia perdão, escrevia poemas anti-Camões, e se comportava ridiculamente como um personagem de Eça de Queirós, o que sempre inclui gases e caspa e uns discursinhos.

Não escrevi porque não queria escrever um livro inteiro com um personagem tão ridículo; e depois era tão "tópico", tão "atual". Mas se alguém quiser escrever por favor escreva: não há nada tão engraçado como uma fatwa.

Eles são tão incompetentes que só conseguem matar tradutores japoneses.

Eu ia postar aqui as caricaturas do como-é-mesmo-o-nome, whatever, o jornal dinamarquês, preguiça de ir ver, mas elas são ruins, não é? Eu sei que esse não é o ponto, ok? Mas elas são ruins e não vou postar.

E o primeiro que disser "somos todos dinamarqueses agora" leva com a minha edição dos contos de Hans Christian Andersen direto no gogó, que imagino trêmulo de emoção demagógica. Aposto que neste exato momento um deputado de Tocantins está coçando o nariz bulboso pensando em levantar e pedir a palavra e dizer isso, com sotaque de Tocantins.

Está levantando. Desce, Rex! Deitado.

Só agora me dei conta de que estou falando de assuntos atuais. Me deu uma fraqueza, caí de joelhos no chão, espera. (É sempre assim que vocês se sentem? Ou é só a primeira vez?) Mas o que eu ia dizer, não quero que pensem que estou tentando me passar por um grande defensor da liberdade de expressão.

Não, não. Liberdade de expressão é legalzinha, não estou falando mal dela, propriamente; mas o problema dela é que cada vez que se fala no assunto alguém vem e diz, "Posso não concordar com nada do que você diz", (isso dito por um molequinho com a camiseta coberta de pedaços de nachos, mind you), "mas lutarei até a morte pelo seu direito de dizê-lo".

Hein, quantas vezes isso foi citado em blogs por aí? Nem procurei, mas enfim. Na verdade Voltaire nunca disse isso. O que melhora a minha opinião sobre Voltaire (usualmente a mesma de Nero Wolfe: "a remarkably word-assembly plant, but he wasn´t a man, let alone a great one"), porque não consigo imaginá-lo nem lutando de almofada contra Diderot, dando gritinhos afeminados e reclamando que foi acertado na peruca, quanto mais lutando "até a morte".

Mohammad

Em inglês, pra ver se eles googlam e param aqui. Se me pedirem direito, dou o meu endereço - e daí eles vão e, com sorte, matam o tradutor japonês de Noam Chomsky.

Um comentário:

Anônimo disse...

Excelente texro os meus mais sinceros parabéns