quinta-feira, fevereiro 09, 2006

English Bar - O Regresso a um Clássico

Corriam os anos da Segunda Grande Guerra.

Em Portugal, sobretudo em Lisboa e Cascais, fervilhavam os espiões dos dois lados, que se cumprimentavam cordatamente enquanto frequentavam o Casino Estoril , durante a noite, mas que se apunhalavam alegremente durante o dia, tentando saber o que o "outro lado" conspirava.

Várias obras de ficção foram escritas sobre este tempo. Um destes dias vou aqui recomendar algumas.

Hoje, contudo, quero falar-vos de um Restaurante (que era Bar nessa altura da 2ª Grande Guerra e propriedade de um espião inglês) : O English Bar, debruçado sobre a Marginal mesmo à entrada de Cascais, na localidade do Monte Estoril.

Quem leu Sttau Monteiro (Angústia para o Jantar) recorda-se das referências ao English Bar, um dos locais mais in da Capital - e onde não era permitido aos grandes senhores levar as amantes devido à selecta clientela que o frequentava (Conde de Barcelona, Rei de Itália, Família Espírito Santo, etc, etc...)

Na posse da Família de José Manuel Cimas (Sobral) desde que o tal espião inglês se pirou para outras paragens quando acabou o conflito, esta verdadeira montra de grandes personalidades (que não do Jet Set televisivo e revisteiro que actualmente nos infesta) conheceu altos e baixos, em função da maior ou menor proximidade a Cascais dos seus habituais frequentadores (logo após o 25 de Abril foi-se um pouco abaixo...).

À primeira vista poderia parecer que estou a descrever um "antro burguês" retrógrado, cinzento e Salazarista!

Nada disso!! José Manuel Cimas foi Presidente do Grémio da Restauração e Hotelaria antes, durante e depois do período da nossa Revolução, por muitos anos, e não se conhece quem dele tenha essa ideia passadista. A grande maioria dos seus Empregados está na Casa há mais de 30 anos, o que - só por si - já é sinal de alguma coisa.

Pelo contrário, enfrentou alguns dos exageros do nosso PREC com sensibilidade e com bom senso, um pouco à medida, aliás, do que se passou com o seu Primo, também Sobral mas Portela (de Pai) e que era proprietário do Gambrinus.

Sempre se comeu muito bem no English Bar. Era a Mãe do actual proprietário que organizava a cozinha e que lá deixou grande parte do Receituário que ainda hoje se utiliza.

A caça é tradicional, já que toda a Família do proprietário caçava, bem assim como a maioria dos seus Clientes habituais.

Também os Peixes são de extrema qualidade, embora em pouca variedade (Robalo, Cherne e Pregado. Por vezes o esquivo e excelente Linguado Rosa de Cascais, hoje quase mitológico, que fazia as delícias do Sr. Calouste Gulbenkian).

Alguns dos Clássicos deste Clássico:
. As Galinholas estufadas nos seus sucos naturais, com batata palha e salada de agriões.
. O Pregado cozido ao vapor, com Molho Holandês
. O Arroz de Lampreia (aqui feita com Vinho Alentejano velho, o que lhe dá um gosto adoçicado fora do habitual, mas que tem de se experimentar).
. A Lagosta gratinada, ou à Armoricaine.
. Os Rins de Borrego Flambées com arroz de passas e amendoas.
. Os melhores Crêpes Suzette do País (incluindo os do "primo" Gambrinus).
Etc, etc, etc,...

Uma Garrafeira muito bem escolhida , sobretudo em Tintos, onde avultam quase todos os actuais da moda, mas sem esquecer os mais tradicionais do Douro e Alentejo.

É caro?

Bem, não é barato...

Três comensais que entrem pelo Pregado, continuem pelas Galinholas e acabem nos Crepes, podem pagar entre 220€ e 300€, dependendo da escolha de Vinhos...

Um grande tinto como o Lavradores de Feitoria 3 Bagos de Ouro, Reserva de 2001 (que a Galinhola merece, pela raridade e pela absoluta excelência da confecção) pode aqui custar quase 60€. Mas já custa nas Garrafeiras perto de 40€...

Lembro-me que numa das passagens dos últimos anos (talvez em 2002) fui lá jantar com o meu Filho e dois amigos, e tendo comido como um rei e bebido duas garrafas de Ruinart Blanc de Blancs, para além de um Tinto de respeito (Quinta de la Rosa Reserva, se não me engano) pagámos cerca de 120€ por cabeça incluindo os aperitivos e digestivos de uma longa noite que começou às 21H e só acabou lá para as 02H...

Só para termo de comparação, a ceia de um Hotel de luxo nessa mesma noite - se bem que incluindo animação - custava 250€ por pessoa e juro a pés juntos que não comiam nem bebiam, nem de perto nem de longe, tão bem como nós!

É claro que a nossa animação de Passagem do Ano no English Bar foi feita à conta do Sr. Cimas a bater com as panelas à Meia Noite e a vermos das suas esplêndidas janelas o Fogo de Artfício na Baía de Cascais...

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