quarta-feira, dezembro 09, 2015

Uma volta pela "night", 20 anos atrás



Não me recordo da última vez que fui "aos fados".  Talvez fosse em 2005...

Houve uma altura da vida em que mais ou menos todos os meses passava pela casa da Maria Jô-Jô, a Taverna d'El Rei que fica na Alfama "baixa".  Não só - devido aos "ossos do ofício" -   algumas vezes levava clientes e amigos estrangeiros a esse local, como até acontecia encerrar por ali alguma noite "de trabalho" mais animada.

Digo "de trabalho" porque o pretexto era mesmo esse.  Marcava-se a reunião para o final da tarde.  Trabalhava-se até perto das 20h e a seguir  concordávamos que "já não valia a pena ir jantar a casa".

Depois era romaria para o saudoso "Barrote Atiçado" na Pontinha. Ali ficávamos até à meia-noite. Seguindo posteriormente para algum lado onde pudéssemos continuar a faina. Ou no Bairro Alto ou então na Maria Jô-Jô. Certos dias era eu que ganhava a aposta e íamos para o "Blues" nas Docas, ouvir Jazz.

Bons tempos? Eram pelo menos tempos diferentes. Lisboa parecia mais alegre, adivinhava-se a chegada do Euro e a entrada na CEE.  Fizera-se a EXPO 98. Havia dinheiro a circular em tudo o que era sítio. Por isso mesmo também nos bares e restaurantes, que estavam quase sempre cheios.

Para entrar e arranjar mesa era preciso conhecer os porteiros ou a dona da casa. E fazia impressão ver o número de garrafas de whisky com nomes de clientes que esmagavam as prateleiras. Tanto no Bairro Alto como em Alfama, em casas de fado  ou em discotecas e bares. Uma garrafa de 12 anos custava entre 8 e 12 contos naquela altura. Era dinheiro.

Não sei se ainda será assim, porque nunca mais frequentei a noite com aquela assiduidade. Mas dizem-me que há menos destes clientes gastadores. Leiam aqui sff a opinião do representante dos comerciantes do Bairro Alto, transmitida à Lusa:

A passagem para um maior consumo da cerveja é óbvia, porque é muito mais barata. O whisky velho até era uma bebida com bastante saída e agora deixou de se servir”,  Além disso, acrescentou, tem-se notado também um acréscimo de pessoas que marcam presença num bar ou discoteca uma noite inteira sem consumir. “Muitas vezes os espaços até estão compostos, mas as pessoas não consomem.

Na passagem do século XX para o actual não era assim. Quando chegávamos ao "Plateau" o porteiro mandava logo avançar a "caravana".  Cheirava-lhe a dinheiro, no bolso dele e na caixa registadora. Passávamos à frente da malta nova que nos fuzilava com os olhares e quando saíamos, sendo 4 ou 5, pelo menos duas garrafas de Johnny Walker Black tinham marchado.

Ainda hoje quando tenho ocasião de beber esse whisky - o velho malte ainda não estava na moda - lembro-me dessas aventuras dos meus 40 anos. Idade engraçada quando alguma maturidade ia de mão dada com  poder aquisitivo. E nessa altura nem era preciso ter muita sorte, quem quisesse trabalhar tinha emprego. E dinheiro para trocos.

O tempo não volta para trás. Mas era bom que a situação económica pudesse voltar.

Bem sei que os leitores mais cínicos (ou perspicazes) estarão a dizer que foi exactamente por termos gastado tanto nesse tempo que hoje estamos assim. Será verdade nalgumas coisas. Mas não se comparem barragens e auto-estradas com consumos privados de 100 euritos por noite, 2 vezes por mês.

Se bem que 100 euritos eram ao tempo 20 contitos... Fazia muita diferença.



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