terça-feira, março 10, 2015

A Fronteira


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A linha que separa o domínio público do domínio privado esbateu-se com a divulgação e utilização das redes sociais.

Aqui no Blog (e na posterior partilha via facebook) tenho sempre algum cuidado em fazer juízos prévios sobre se estarei a divulgar "segredos" só meus ou também de terceiros que podem, ou não, gostar de se ver envolvidos nestas charlas.

Quando almoço em companhia e a ocasião é trivial, mal não faz que se relate algum episódio interessante, ao mesmo tempo que se fala do que se comeu e bebeu. Mas quando a situação é mais complexa ou - pior ainda - quando sou convidado e não "mando na bola", entendo que deve imperar alguma discrição.
Por enquanto ninguém se queixou de alguma falta de respeito (embora involuntária) da minha parte na divulgação da respectiva presença, o que - após mais de 10 anos de Posts -  me parece reconfortante.

Mas também no que diz respeito a questões mais pessoais podemos levantar alguma poeira.

Por exemplo, eu ando com sintomas gripais há mais de 2 semanas e ultimamente comecei a preocupar-me (o que em mim é raro) porque a p*** da gripe não passa, dá febres baixas e arrasa os pulmões com uma tosse seca incomodativa. E não largo o paracetamol.

Será isto do domínio público? Claro que não. Mas se servir para eu próprio brincar com a situação e exorcizar os meus demónios, então tudo bem. Só lê quem quer e a"gripe" é minha...Desde que a não "passe" a estranhos.

Vem esta conversa aqui hoje para ilustrar uma situação engraçada (dependendo dos pontos de vista).

Um amigo meu, um bocado dado ao convívio, queixou-se amargamente que a mulher lhe fez a vida negra quando o viu à noite, numa bela fotografia de copo na mão (através de uma página de um amigo comum) quando em teoria devia estar a trabalhar. E nem refiro qual era o local do crime...Basta insinuar que tinha tromba...

O tal amigo fotógrafo da noite (solteiríssimo, que são os piores para estas coisas) era "amigo" da mulher dele no Face. O que o próprio desconhecia. E podem ter a certeza (sabendo-se quantos séculos as senhoras mulheres guardam estas coisinhas dentro da sua memória) que o desgraçado irá ser lembrado até ao fim da sua vida terrena deste "faux pas".

A transparência e absoluta falta de privacidade que a tecnologia dos smartphones hoje permite também me preocupa.

Saber que em qualquer lado um fulano pode estar a ser observado, filmado e fotografado, esteja sóbrio ou já um bocado enrolado, esteja sozinho ou acompanhado (bem ou mal), esteja num restaurante, num bar, numa casa de petiscos ou no cinema? É um bocado arrepiante...

Por isso me parece ser importante traçar-se do ponto de vista ético e formal a tal "fronteira" entre o interesse público e anedótico geral e o direito à privacidade de cada qual.

Podem saber mais lendo vários artigos especializados que abundam na Internet.

Com chapelada à Srª Prof. Doutora Maria Eduarda Gonçalves, da Faculdade de Direito da UNLisboa, transcrevo:

"...Será importante que o utilizador compreenda que se pensar em colocar algo na sua página pessoal que o deixe com dúvidas, opte por não o colocar de todo. Isto é premente (...) porque, embora não exista, actualmente, jurisprudência portuguesa que resolva esta questão, a tendência internacional é considerar as redes sociais como enquadradas na esfera pública do utilizador, independentemente das suas definições de privacidade."

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