segunda-feira, outubro 03, 2005

Porque se calou Guterres em 2001?

Quem viu o programa "Expresso da Meia Noite" , na SIC Notícias da passada Sexta Feira , recorda-se de ter ouvido o Politólogo Joaquim Aguiar a referir-se por mais do que uma vez

"Àquilo que Guterres já sabia em 2001 e que o levou a não querer mais governar, dando por desculpa os resultados das Autárquicas".


Joaquim Aguiar - embora nunca o tenha feito nos meios de Comunicação Social - já teve ocasião de explicar em Conferências que proferiu, nomeadamente no ICS, que o tal "Monstro" que teria assustado o Engº António Guterres não era mais do que a constatação real de que o sistema de Segurança Social português não tinha sustentabilidade, sendo garantido que o Estado-Social tão caro ao nosso Engenheiro deixaria de ser viável em Portugal num prazo de tempo "mais curto do que comprido"...

Joaquim Aguiar é insuspeito nesta matéria, tratando-se, como sabemos, de um respeitado analista de centro-direita.

A argumentação que suporta este tese também não é desconhecida. A Segurança Social Portuguesa foi criada num enquadramento que hoje já não existe: os cidadãos começavam a trabalhar cedo (17 ou 18 anos, às vezes ainda mais cedo) e acabavam também por morrer mais cedo (a partir dos 60, 65 anos), pouco ou nada gozando a reforma.

Assim se perpetuava um "superavit contibutivo" que não tinha dificuldades em lidar com a franja dos poucos que "teimavam" em não morrer tão cedo. As Domésticas, Os Agricultores e Trabalhadores rurais não tinham direito à reforma e, quando finalmente a alcançaram, esta teve valores simbólicos...

Hoje em dia os Jovens começam a trabalhar mais perto dos 24 anos - quando conseguem emprego - e não é absurdo imaginar-se uma esperança média de vida a rondar os 80\85 anos...

Por outro lado os portugueses têm cada vez menos filhos, e os poucos que têm, têm-nos mais tarde, talvez com receio da evolução económica do País, mas também ( e sobretudo) por não poderem constituir famílias estruturadas tão cedo como os seus Pais ou Avós.

Soube-se - pelos últimos dados do INE - que o nº de cidadãos com mais de 60 anos é agora superior em cerca de 20% aos que têm menos de 25 anos.

Não é preciso ser um "Prémio Nobel da Economia" para perceber que estas tendências têm todas o mesmo sentido e que este aponta para uma conclusão inevitável: Há cada vez menos cidadãos a contribuir activamente para a Segurança Social, e cada vez mais cidadãos a receber.

Penso que todos nós, pelo menos num cantinho da nossa cabeça, já suspeitávamos que as Reformas teriam tendência a ser cada vez mais esbatidas face aos vencimentos do trabalho: 80% do vencimento já lá vêm numa pressa. Talvez dentro de 3 ou 4 anos, já estejamos a falar de apenas 70%. Mas não ficará por aqui...

Seria esta dura realidade a que levou o Engº Guterres a sair daquela forma tão estranha? Não sei. Só ele próprio nos poderá esclarecer.

Será esta dura realidade a que vem justificando as medidas tão impopulares do actual Governo?
Também não sei com certeza absoluta, mas aposto que sim.

Nestas circunstâncias, porque não dizer a Verdade Nua e Crua a todos os Portugueses?

Se calhar pelos mesmos motivos que levam Joaquim Aguiar (e outros Politólogos e Investigadores Sociais) a não falar deste assunto nos Meios de Comunicação Social: o medo da reacção popular.

No fim de contas, se considerarmos que o objectivo último da Governação é proporcionar melhor qualidade de vida aos portugueses, o reconhecimento da impossibilidade da Segurança Social assumir os seus compromissos a tão breve trecho pouco menos seria do que anunciar a Insolvência do Estado...

Que fazer? Para já, cuidarmos da Reforma em termos alternativos, escolhendo produtos adequados na Banca ou no Mercado Imobiliário, de preferência noutros Países da União Europeia, para "separar os ovos em mais do que uma cesta".

E os outros - para aí 90% ou 95% da população - que não o podem fazer? Aqui é que está o Problema...

Já compreendemos melhor o dilema do Engº Guterres?

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