segunda-feira, agosto 01, 2005

A Juventude e o Vinho

A Propósito da Queima das Fitas deste ano veio-me a ideia de escrever o seguinte:

Começamos por descansar os guardiões da moral e dos bons costumes: quando falamos de juventude damos ao termo a conotação de “jovens adultos”, homens e mulheres de mais de 18 anos, no início ou prestes a iniciar uma carreira profissional, e em grande parte dos casos, ainda a concluir o seu processo de formação académico.

Tirem pois da ideia que este artigo se vai debruçar sobre as práticas de alcoolismo em tenras idades, problema cuja acuidade não negamos, mas que deve ser tratado e analisado noutros fóruns e, de preferência, por especialistas na matéria, pois a seriedade do assunto não se compadece com abordagens de leigos.

Desejaria escrever umas linhas sobre as causas do afastamento dos “jovens adultos” em relação ao consumo – com moderação - e à apreciação dos bons vinhos portugueses, substituindo-os por outro tipo de bebidas alcoólicas para acompanhar os seus momentos de lazer.

Este fenómeno foi já discutido por muita gente, em Portugal e no estrangeiro, sendo até interessante verificar que no fim da década de 90 aconteceu, pela primeira vez no nosso país desde o tempo de D.Afonso Henriques, que o consumo anual de cerveja ultrapassou o consumo do vinho!

O que se teria passado para causar este afastamento progressivo ente os jovens e o vinho?

A trindade constituída pelo vinho, a comida e os comensais é cada vez menos venerada nos lares portugueses, onde a falta de tempo é muitas vezes desculpa para que a família adira às novas modas do "fast food" na qual se entroniza el-rei D. Micro-Ondas ao lado de sua real consorte a Rainha Dª Pizza Congelada.

Quando ouvimos falar das conversas que se estabeleciam à mesa entre familiares e amigos, ao ritmo natural a que se serviam os diferentes pratos, enaltecendo a arte das cozinheiras (mães ou avós) e apreciando, ou aprendendo a apreciar com os pais e avôs, os vinhos escolhidos para a refeição, não podemos deixar de estabelecer uma comparação degradante com a actual caricatura daquela forma de bem-estar.

Corre-se hoje o risco de perder o hábito do diálogo entre as diferentes gerações que assegurava a transmissão dos ritos e hábitos culinários ancestrais, e estabelecia, entre pais e filhos, uma relação cúmplice, forjada pela apreciação das coisas simples que tornavam a vida em família bem mais aliciante do que actualmente.

Os antigos sabores e aromas das cozinhas portuguesas e das suas vinhas, sabiamente guardados e preservados por alguns a contragosto das últimas modas, têm, contudo, vindo a perder terreno na luta desigual que travam com o frenesim da vida moderna e da competição desenfreada por “um lugar no pódium”, seja no emprego, no liceu ou na faculdade.

Precisamos, hoje em dia, urgentemente, de “fazer tempo” para apreciar as coisas boas da vida. A defesa do património gastronómico e enológico nacional deveria constituir uma obrigação para os poderes públicos, permitindo a todos (re)aprender a desfrutar o prazer da mesa em boa companhia e integrando esta filosofia no conjunto de orientações que pautam a sua maneira de viver.

Mas não são só causas conjunturais, externas ao sector vitivinícola , que provocam o problema. No fim de contas todos sabemos que o mundo mudou (e como mudou desde o 11 de Setembro...) e não vale a pena estar a pensar que é possível o retrocesso. A capacidade de adaptação aos novos ambientes tem de ser uma característica de qualquer sistema, seja ele uma família, uma empresa ou um sector empresarial.

Neste caso concreto como é que o sector vitivinícola, e o de restauração que lhe está associado, reagiram à alteração de hábitos da população?
Resposta: Aumentando os preços, transformando o consumo do vinho numa actividade de élite, remetendo na prática os jovens potenciais consumidores para a escolha entre rótulos de cerveja.

Já tentei beber vinho em restaurantes a menos de 13€ mas não consegui, tal a fraca qualidade do produto que nos apresentavam. E reparem que estou a falar de restaurantes da gama média\baixa...

Não me parece possível canalizar o consumo de vinho clássico para bares e discotecas, a não ser em casos especializados – locais especificamente vocacionados para esses consumos. Não é socialmente bem aceite pedir um copo de vinho nesses sítios e o enquadramento de um programa nocturno (salvo raras excepções) não é propício à necessidade de tempo que um bom vinho merece para ser apreciado, pelo que a resposta tem de passar pelo incremento do consumo nos restaurantes e “snacks” que a “malta” habitualmente frequenta.

Todavia o consumo de Espumantes de qualidade, vendidos a copo (flute), não só me parece adequado a esses locais de diversão (bares e discotecas) como até desejado pelos proprietários tendo em vista o acréscimo de “charme” que podem proporcionar ao estabelecimento e a tendência de moda que podem vir a provocar noutros locais. E todos sabemos como a vida nocturna é feita de modas, sendo sempre necessário encontrar-se novos motivos de atracção para que a clientela não fuja...

O preço é um problema? À primeira vista sim. Será sempre mais caro fazer e comercializar um vinho médio ou um espumante de qualidade do que uma boa cerveja. Todavia mais produtores podiam ter em atenção este mercado potencial e investirem em formatos especiais de garrafas, ao mesmo tempo que criassem condições propícias para permitir servir os vinhos a copo, por exemplo oferecendo as rolhas de pressão aos clientes da restauração.

Existem problemas práticos? Claro que sim. A venda de vinho de qualidade razoável a copo tem constrangimentos logísticos, o armazenamento da cerveja é muito mais fácil do que o das garrafas de vinho, as verbas de promoção e publicidade das cervejeiras são um “golias” quando comparadas com as homólogas da indústria vitivinícola etc, etc...

Mas se não começamos por algum lado ainda daqui a dez anos estaremos a falar da mesma coisa, com consequências menos boas para os produtores e engarrafadores de bons vinhos e espumantes portugueses.

Assim sendo, vamos a eles Departamentos de Marketing das grandes Produtoras e Comercializadoras de Vinhos e de Espumantes! Não baixem os braços e consigam “enfiar” os vossos excelentes produtos nas “casas da moda”.

2 comentários:

Anônimo disse...

Class. Vinhos

Conde Ervideira Tinto Reserva 2003
10€-20€
****

Herdade dos Pinheiros T. Reserva 2002
10€-20€
****
Camarate Branco Seco 2004
Menos de 10€
****

Anônimo disse...

Aqui vão uns Vinhos:

Quinta da Leda 2001 Tinto Douro
20€-40€
*****

Vinha Paz Colheita 2003
10€-20€
+++