Na aldeia multiplicaram-se estranhamente na minha ausência de alguns meses as antenas parabólicas da ZON, penduradas ao lado das janelas, junto às chaminés, mas não (ou raramente) nos telhados , que era o local onde a minha imaginação situava a parabólica antiga de metro e meio, com motor rotativo e capaz de apanhar 3 ou 4 satélites. A, digamos assim, Parabólica-Matriz, da qual hoje descendem as MEOs e as ZONs, mais maneirinhas e discretas, mas infelizmente enfeudadas a uma única fonte de entretenimento.
Houve decerto aqui campanha evangelizadora da ZON, cujos apóstolos proselitizadores teriam chegado ao local antes dos inimigos da MEO, e depois aconteceu o já conhecido fenómeno da multiplicação nas aldeias (que digo eu, até em Lisboa…) constituído pela rábula do “Se ela tem eu também quero, quem é que ela pensa que é? Tem a mania que é mais do que os outros ou quê?”
Isto do avanço da TV Cabo na “mais alta”, por si só, não quebraria a minha habitual neutralidade quanto a estas coisas das modernices e respectiva invasão do espaço telúrico onde me acolheram há 30 anos.
Desde que – está claro - continue a existir a touriga e o encruzado, o Tinto e o Branco (este que dê boa prova, o que é mais difícil) e Pastos para as ovelhas que se trocam por queijos e borregos.
Tudo o resto me deixa tão imperturbável como o velho Tio Santidade quando as vizinhas se queixavam que “ia faltar a água”.
Água??!! Água era coisa que o Tio Santidade só bebia se misturada no vinho (sem ele saber). E, para banhos, acho que dela se servia uma vez por ano, na Páscoa da Ressurreição, logo de manhã, e isto quando o “compasso” lá ia a casa…
Porque quando acabou esse velhíssimo hábito da visita pascal, o Tio Santidade terá também , por falta de utilidade e com medo de se constipar, acabado com a ideia do banho anual. Morreu como os outros, mas aos 92 anos, coitado, e para quem fumava 2 maços de “3 vintes” e bebia, por dia, meio garrafão até às 8 da noite, e o outro meio entre as 8 e as meia-noite, até que não foi “convocado” muito cedo…. Leva-nos a pensar se não haverá demasiada água na nossa vida actual…
Mas adiante !
Olhando melhor para as antenas parabólicas, acabei por reparar que muitas delas tinham pregado no fio um saco de plástico preto esvoaçando ao vento…
Tive que tomar coragem para perguntar para que era aquilo. A resposta, como sempre, foi prática que bastasse:
“-Então não sabe que a passarada aproveitava as antenas e os fios para estarem para ali em cantoria logo a partir das 4 da manhã? Ninguém dormia nestas casas!”
O plástico negro esvoaçante não era mais do que um “dissuasor da cacofonia pardaleja”!
Um verdadeiro gadjet de alta tecnologia aplicada a um problema prático!
Logo ali o crismei: Electrónico PIU-CHIU Black.
E temos esta tecnologia disponível para exportar e vender!
Pelo menos enquanto os ciganos da Feira de Seia, das Quartas Feiras, continuarem a embalar a mercadoria em sacos de plástico pretos…
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