Uma senhora desconhecida de Londres tinha comprado setenta e não sei quantas vezes o bilhete para ver o seu espectáculo de teatro favorito no West End, St Martins Theater – The Mouse Trap, de Agatha Christie, que, com mais de 24 000 representações e ainda hoje em cena, é a mais representada peça de teatro do mundo, de todos os tempos e nações. Sabe-se que a gerência do St Martins Theater, a partir do último bilhete comprado, deu à senhora um livre acesso perpétuo à peça em causa. Parece-lhes estranho? Então leiam o resto sff.
Meu Mestre João Bénard escreveu que tinha visto o seu filme preferido, o “filme da sua vida” - Johny Guitar ; 1954; de Nicholas Ray. Com Joan Crawford; Sterling Hayden; Ernest Borgnine – cento e trinta e muitas vezes (sim, eu escrevi, e ele também, mais de 130 vezes…). Mesmo assim sempre que o revia descobria ainda qualquer detalhe não anteriormente percepcionado. Fosse nas “falas” da Crawford, fosse nalgum “plano” de Ray…
Eu próprio tenho algumas “manias” do tipo obsessivo. Não bati decerto o record de Bénard, mas já vi seguramente o filme “Camões” de Leitão de Barros mais de 30 vezes. Tenho até duas cassetes gravadas com ele, por medo que alguma comece a perder registo.
O Mestre da Cinemateca ainda teria por desculpa a sua obsessão cinéfila ter por base uma das obras-primas eternas do cinema mundial, enquanto que – convenhamos todos – Camões de Leitão de Barros não se poderá gabar dessa fama… ele que nem sequer teve ainda a honra de ser reeditado em DVD. Por muitos motivos, falta de qualidade artística sem duvida (aquele final estafado ou a visão do bardo em frente aos "panos de Arras" são péssimos...) mas também , e não sei se sobretudo, por ter sido obra de propaganda do regime salazarista.
Sendo eu um livre pensador anarco- socialista de pendão e caldeira porque raio é que me emociona desta maneira a velha película do regime maldito? Por amor ao Príncipe dos Poetas, enterrado sem se saber onde, por não sei quem, vivendo à míngua , despeitado por ricos e poderosos, hoje ressuscitado como ícone da lusitanidade em exéquias de hipocrisia póstuma?
Ou talvez por causa das grandes actrizes Leonor Maia (que nunca mais foi tão bela como aqui aparece filmada, a preto e branco) , Idalina Guimarães, Eunice Munoz, Carmen Dolores, Maria Brandão, Cassilda de Albuquerque , Virgínia de Vilhena, Dina Salazar. E os seus compadres António Vilar, Paiva Raposo, Igrejas Caeiro, António Silva, Manuel Lereno, Vasco Santana, Assis Pacheco , João Villaret e o grande, enorme, Costinha (Augusto Costa) no camareiro Gaspar Borges…
Ora não me venham dizer que eles e elas, este Cast fabuloso, de luxo português, eram todos “fâmulos do Botas!!!”
É que alguns (lembram-se os velhos do meu tempo do Igrejas Caeiro?) mostraram mesmo mais tarde que não eram! E, nem que fosse por respeito ao trabalho de todos esses grandes Actores, já o filme teria o direito de ter saído em DVD.
A inenarrável “obra” Branca de Neve do iconoclasta João César Monteiro – o tal “filme” todo em negro – já saiu em DVD Carago!
Isto irrita-me!
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