Aqui na Serra existem também relatos de algumas Obsessões. Uma das mais conhecidas tem a ver com o “branco da manhã”.
Não, senhores leitores, não está aqui em causa alguma tramóia pseudo-sexual envolvendo o leiteiro e as suas clientes matinais.
“Branco” aqui é mesmo o Vinho Branco. E “Branco da Manhã” quer significar a mania serrana de só beber vinho branco antes do almoço, guardando o tinto para a escaramuça com as vitualhas desse mesmo almoço e para depois, seguindo a marinhagem até à hora da sossega.
Muitas vezes perguntei a mim mesmo se bebiam branco antes do almoço por pensarem que tinha menos álcool, ou se tinha a ver com a cor, já se sabendo que cores mais claras traduziriam hipoteticamente uma bebida mais “leve”, mais “de damas”…
Seria isso tudo, mas também por algum recato. Beber de manhã não era, nem é, nem será, a melhor forma de começar um dia de trabalho em locais normais.Mas atenção! Há 40 anos atrás era normal, em pleno Estoril da civilização e do charme , os trabalhadores pedirem um bagaço e um pãozinho com manteiga ao balcão do quiosque da estação de comboios....Muitas vezes o presenciei. Aqui na Serra tal mania continuava, embora cada vez mais vista de lado (e bem!) pelos filhos e netos dos antigos.
Mesmo assim, naqueles tempos, um Homem que se prezava não podia ser apanhado a beber leite sem que tivesse três ou quatro úlceras certificadas no estômago… E água, com V. licença, era bebida das bestas.
Daí o Branco. O compromisso possível entre a sede, a hombridad, o machismo e a…mais rematada parvoíce.
Bebia-se branco recordando para os compinchas como o Avô ou o Sogro, não se levantavam da cama sem o “mata-bicho”, sem porem à boca a garrafita de cerveja sagres cheia de bagaço! E dali saiam a pé para a Carrapichana com 400 ovelhas à guarda! 35 km a pé feitos entre a meia-noite e as 6 da manhã!
Aquilo é que eram Homens e tempos de trabalho carago!
E de cirroses, acrescento eu.
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