sexta-feira, janeiro 08, 2016

A importância de saber escrever e ler para crianças

Na viagem que fiz a Esgueira (Aveiro), para apresentar o livro infantil " A Magia das Cartas" , fui acompanhado pela  autora, a Drª Margarida Fonseca Santos.

Os quase 600 km de viagem de ida e volta pareceram 60, tal a qualidade da conversa.  Mas foi quando chegámos  ao Centro Cultural da freguesia de Santa Joana que entendi porque é que existem pessoas que sabem falar com crianças e outras que infelizmente não têm esse dom.

Não sei se esta faculdade é inata ou adquirida. Mas mesmo para pessoas com  "jeito" , deve dar muito trabalho passar do "jeito" à realidade de uma acção em frente  a quase 200 crianças, com sucesso notável.

Quem me conhece sabe que nunca me intimidei para falar em público. Quando dava aulas na faculdade aos primeiros anos de Matemáticas Gerais cheguei a ter turmas com 180 alunos, nas aulas magnas.  Mas isso parecem "pinâtes" , como diria o Jorge Jesus, comparado  com uma plateia de 200 crianças entre os 6 e os 8 anos. Podem acreditar!

Por isso tenho que louvar a postura da Drª Margarida, que sentada numa cadeira e sem outro apoio que não fosse um microfone, entreve a dita plateia ( silenciosa!!) durante quase meia hora, enquanto lhes contava uma história deliciosa sobre uma folha de papel deixada na secretária de um escritor na véspera de Natal.

Porque hoje é sexta feira, e em memória desse momento que nunca mais vou esquecer, aqui deixo um poema dedicado às crianças de todas as idades. É de Ruy Belo e chama-se "Proposições sobre crianças":

A criança está completamente imersa na infância 
a criança não sabe que há-de fazer da infância 
a criança coincide com a infância 
a criança deixa-se invadir pela infância como pelo sono 
deixa cair a cabeça e voga na infância 
a criança mergulha na infância como no mar 
a infância é o elemento da criança como a água 
é o elemento próprio do peixe 
a criança não sabe que pertence à terra 
a sabedoria da criança é não saber que morre 
a criança morre na adolescência 
Se foste criança diz-me a cor do teu país 
Eu te digo que o meu era da cor do bibe 
e tinha o tamanho de um pau de giz 
Naquele tempo tudo acontecia pela primeira vez 
Ainda hoje trago os cheiros no nariz 
Senhor que a minha vida seja permitir a infância 
embora nunca mais eu saiba como ela se diz 

Ruy Belo, in 'Homem de Palavra[s]' 

2 comentários:

Margarida Fonseca Santos disse...

Oh, querido companheiro de viagem... obrigada!
Foi um dia muito bem passado - e tanto que conversámos.
Um grande beijinho amigo

Raul Moreira disse...

Para mim é que foi um enorme prazer!!