segunda-feira, janeiro 11, 2016

Um elefante na sala




Quando um assunto incomoda de tal forma que evitamos falar dele ( embora toda a gente saiba do que se trata) costuma dizer-se que "está um elefante na sala".

Não se sabe bem a origem desta frase. Parece que terá sido o New York Times a usá-la pela primeira vez em 1959, numa frase em que falava do financiamento do sistema educativo (imaginem!!):
"Financing schools has become a problem about equal to having an elephant in the living room. It's so big you just can't ignore it."

Lembro-me de uma vez em que estava a família toda à mesa na quinta da Beira Alta, no almoço do Ano Novo. Alguns dos primos mais novos tinham apanhado uma "cadela" tão grande na véspera que se notavam perfeitamente os olhinhos ainda piscos e o ar enjoado com que encaravam o cabrito no forno. Para além disso espirravam de minuto a minuto.

Tinham ido para S. Romão passear pela aldeia com uma garrafa de espumante na mão, a comer e a beber até ser dia. E apanharam duas carraspanas: a do álcool e a constipação derivada de passarem várias horas ao relento.

Os tios e os sogros  desconfiavam da  saída noturna que tinha durado até de madrugada,  Mas  porque não queriam dar escândalo à frente do lisboeta (moi) ali presente e que tinha acabado de casar lá em casa, a  "cadela" da véspera era o tal "elefante na sala".

Lembrei-me desta frase idiomática para ilustrar a campanha eleitoral para a Presidência da República que começou ontem, dia 10 de Janeiro.

Sobretudo a a posição  do PS, para quem a situação ideal era que não houvesse campanha, de tal forma parecem incomodados pela necessária escolha de um candidato.

Ter dois será melhor do que não ter nenhum? Dar liberdade de voto na 1ª volta ( as tais "primárias de esquerda") em Maria e Nóvoa manifesta o mais puro sentimento democrático?

Até poderíamos acreditar que sim, sobretudo ao nível do discurso das ideias, em teoria. Mas esta prática não deixa de soar relativamente mal.

A verdade transmutada em  "elefante na sala" é que não houve tímbalos (tintins, tomat***)  para escolher em tempo devido. E face ao adiantar do processo a escolha salomónica acabou por ser: "deixa-os ir e depois se vê quem sobra para a segunda volta".

Se houver segunda volta! Pois aqui é que a porca torce o rabo. 

A posição do PS favorece a abstenção, disso não tenham dúvida. 

Em eleições que não possuem uma clivagem ideológica forte e posições bem extremadas, sobe a percentagem de abstencionistas porque os eleitores não se ralam com a escolha. 

E a abstenção favorece quem? Dizem os manuais que favorece sempre quem vai à frente nas sondagens. Esse mesmo. O Tio Marcelo !

Nota: Caricatura de Pedro Ribeiro.

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