quinta-feira, julho 30, 2015

Excitando as papilas

Em conversa recente com o amigo Fortunato veio à colação o texto admirável de meu mestre Quitério sobre a "Galinhola Rainha". Vem no seu último livro "Bem Comer e Curiosidades", na página 207 e dentro de um capítulo dedicado à "Caça no Prato".

100 páginas antes, na obra referida, podemos ler o enorme "Um adeus português ao bacalhau", texto emblemático amplamente citado na literatura da especialidade e que David Lopes Ramos considerava o melhor que alguma vez se escreveu sobre o "fiel amigo".

Estava a pensar combinar com a família Mendonça - lá mais para a rentrée - uma homenagem a estes dois textos que tivesse a forma de aplicação prática: com pratos e talheres. Esgrimindo argumentos mas não deixando de os intervalar com garfadas apetitosas, Sendo que umas puxam pelos outros, como se deseja e era apanágio das tertúlias gastronómicas dos homens de letras de antanho.

Este projecto devia ser considerado de interesse público (pelo escopo e abrangência) embora sirva apenas a gula dos intervenientes merendeiros. Quanto muito poderá dar origem a algum texto com que se imortalize a ocasião para a posteridade.

A ver vamos - como diria o Tio Rosa, invisual de Cascais que, pela deficiência e com a desculpa de se desequilibrar, muito aproveitava para apalpar as peixeiras lá no mercado.

Um Arroz de Bacalhau seguido pelas Galinholas à moda do Beira (estufadas em Madeira e acompanhadas com as tostas do seu paté tripeiro) ?

Duvido do primeiro prato... É de substância e pode arruinar o apetite dos comensais para o que segue.
Os pastelinhos com um humilde arroz de grelos?  Só os pastelinhos mesmo, com uma salada fria  de feijão frade ?  Enveredar pelo canónico bacalhau à Gomes de Sá?

E os vinhos para acompanhar , de forma a que fique bem o casamento de tão excelsos senhores?

Um tinto de 2011 do Douro, provavelmente. E antes? Um Primus do Engº Álvaro de Castro, um Sauzelhe do estábulo lá do lado dele? Ou um Alvarinho?

Temos ainda algum tempo para pensar, está claro, mas é com estes entretens salivosos que vou passando o tempo livre.

Só de pensar nisto já engordei mais umas 200 gramas...A imaginação é uma coisa lixada...






2 comentários:

geraldes disse...

Carissimo Correio Mor
este teu post ou "posta" é de um requinte perverso . Só a ideia da simbiose em antinomia, do fiel amigo com a rainha das aves, já que os "ortolans" estão fora de questão, é equivalente a um pequeno agape que recentemente presenciei e em que houve caviar sevruga malossol e caracóis .
A proposito da galinhola e tendo acabdo de ler o fantástico " Pantaraxia" autobiografia de Nubar Gulbenkian, deparei-me com uma receita que ele privilegiava, a becasse en fumet. Curioso fui procurar a receita e espantosamente é muito semelhante ao modo de preparar a dita passara lá para os lados de Pavia... Só mesmo o armagnac e o foi gras não fazem parte da versão alentejana, mas providenciarei por ensaia-la assim que me apareça e se possivel contarei comtigo para a partilhar.
Abraço

Raul Moreira disse...

Mas que maravilha de comentário meu Amigo!
Muito obrigado!