Do mar moreno, como lhe chama o Prof. Adriano Moreira, o Atlântico que vai de Sagres até ao Rio de Janeiro.
A revista literária Bula quis eleger os 10 maiores poemas brasileiros de todos os tempos. Eleitos por 50 convidados (escritores, poetas, jornalistas e críticos) . Mas acabou por ter de escolher 24 poemas, aqueles que tinham todos tido mais de 3 citações dos votantes. A lista aqui fica:

De entre esses 24 escolho "O Cão sem Plumas" do grande João Cabral de Melo Neto, poeta e diplomata (também ele). Nasceu em Pernambuco em 1920, faleceu no Rio em 1999.
O Cão Sem Plumas
A cidade é passada pelo rio
como uma rua
é passada por um cachorro;
uma fruta
por uma espada.
O rio ora lembrava
a língua mansa de um cão
ora o ventre triste de um cão,
ora o outro rio
de aquoso pano sujo
dos olhos de um cão.
Aquele rio
era como um cão sem plumas.
Nada sabia da chuva azul,
da fonte cor-de-rosa,
da água do copo de água,
da água de cântaro,
dos peixes de água,
da brisa na água.
Sabia dos caranguejos
de lodo e ferrugem.
Sabia da lama
como de uma mucosa.
Devia saber dos povos.
Sabia seguramente
da mulher febril que habita as ostras.
Aquele rio
jamais se abre aos peixes,
ao brilho,
à inquietação de faca
que há nos peixes.
Jamais se abre em peixes.
João Cabral de Melo Neto
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