quinta-feira, setembro 05, 2013

Notas de Viagem à Guarda (não confundir com a GNR)




Já me custa fazer viagens grandes a conduzir, ir e voltar no mesmo dia. Por esse motivo e sempre que posso coopto o meu senhorio para ir comigo. Vamos “caminhando” e vamos falando, o que é bom para o sossego familiar.

E rimos bastante os dois pelo caminho, o que também não deixa de ser saudável. Até poderia ser mais saudável se as risadas não fossem à custa de terceiros…Mas o país está assim mesmo, muitos políticos põem-se mesmo a jeito de umas boas gargalhadas e não há volta a dar.

Ontem fizemos os mais de 700Km que separam o Estoril da Guarda (ida e volta) e, como chegámos relativamente cedo em relação à hora da reunião, fomos dar uma volta ao interior da vetusta catedral, começada em 1390 e acabada 150 anos mais tarde.

Os arranjos exteriores estão bem. A catedral emerge da praça como se fosse um afloramento monumental de granito, e é bom que essa monumentalidade não seja distorcida por edificações construídas sem respeitar o espaço reservado , demasiado perto da velha igreja. Lá dentro um grupo de confrades brasileiros discutia os detalhes da decoração com um dos sacristãos. E repetiam que “a igreja é mais velha do que o Brasil!” . meio extasiados.

Já pelas ruelas da cidade medieval que traz à lembrança D. Sancho I e a sua “Ribeirinha” – D. Maria Pais Ribeira, a trigueira de cabelo fulvo que prendeu o monarca à cidade antiga - reparámos num restaurante dito (pelos proprietários) como sendo “típico” e que apresentava na carta do dia “cozido de grão à alentejana” e “secretos de porco preto grelhados”. Dá ou não dá para rir? Ainda se fosse admitido tratar-se de um restaurante transtagano ali implantado, e que tal publicitasse no nome e na carta, vá que não vá! Agora “restaurante típico” da Guarda??

 Adiante (pela rua e pelo texto). Lá chegámos finalmente ao Belo Horizonte onde o Sr. Castanheira tinha os habituais enchidos torrados à nossa espera (morcela grossa, farinheira – não leva farinha mas apenas pão, gordura e carnes da cabeça do porco, e a chouriça da Guarda). Depois a feijoada do dia , onde cabia o pé de porco os enchidos e o feijão grado da serra. Em seguida o javali guisado com a boa batata da Guarda, o feijão verde passado em azeite e alho, os pimentos vermelhos assados (doces) e, para acabar, o leite creme queimado no momento.

 Bebemos apenas branco, que o estio convidava para isso. Um Encruzado da Passarela, de 2008. Belo branco! Como fui convidado, não paguei nem sei quanto custou. Mas se desse para adivinhar diria que cerca de 20 euritos por cabeça.

Pelo Belo Horizonte e pela qualidade da cidade velha, bem tratada (ou não estivéssemos em vésperas de eleições autárquicas) vale bem a pena voltar a esta Guarda. Termino com a cantiga que D. Sancho dedicou a DªMaria Pais Ribeira, talvez a primeira canção (poema) escrita em galaico-português:

"Ay eu coitada Como vivo em gran cuidado
 Por meu amigo que ei alongado!
Muito me tarda O meu amigo na Guarda!
Ay eu coitada Como vivo em gram desejo
Por meu amigo que tarda e não vejo!
Muito me tarda O meu amigo na Guarda."

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