quarta-feira, setembro 25, 2013

Como se vive nas freguesias rurais

Tentei fazer a vida normal de uma freguesia rural da nossa província por mais do que uma vez. Tratava-se de uma freguesia rural , rural mesmo. Excêntrica e não rural por cima de Paço de Arcos ( a Cabra Figa, por exemplo) a 35 minutos de Lisboa. Esta de que falo é mesmo rural da província , na Beira Alta.

Naquele local e antigamente, nas casas de lavoura comia-se 4 ou 5 vezes por dia. Havia que arranjar força para trabalhar o campo. E esse trabalho começava antes das 7h e só terminava com o pôr-do-sol. Era normal  ao longo do dia fazerem-se grandes tachos de feijão ou massa com carnes de porco. As sopas de substância e saladas de bacalhau desfiado eram também habituais. O Pão cozido em casa era omnipresente de manhã até à hora da deita, com algum presunto, salpicão ou queijo. Havia fome, sim, mas em casa dos lavradores tanto eles como os seus trabalhadores pelo menos comiam bem. Dinheiro para trocos é que podia ser mais difícil… Quem tinha ovelhas e fazia queijo dispensava os restos das aguadas (soro) que escorriam dos acinchos para dar aos pobres, que com isso e pão duro faziam as suas sopas. Esses mesmos pobres – que eram muitos - punham os filhos a trabalhar nas casas de lavoura a troco da comida apenas. Tempos de miséria e de arrepio!

Hoje em dia tudo mudou. Sem grandes grupos de trabalhadores para as terras, estas deixam-se em baldio e  cada proprietário faz o que pode e auxilia os outros no dia-a-dia dos trabalhos agrícolas. Galinhas tem sempre que haver, às vezes também uns coelhos e patos. Oliveiras são sagradas! Mas a grande maioria dos pequenos proprietários já só cultiva para si próprio: as batatas (imprescindível), os nabos , as cebolas e as couves

As pessoas comem de manhã, almoçam e depois comem qualquer coisa à tarde, entre as 17h e as 19h. As duas refeições mais afastadas uma da outra normalmente são feitas de pão e algum “conduto”. A da tarde muitas vezes é sopa. E ao almoço cozem-se as batatas com alguma coisita que haja em casa. Lata de sardinhas ou de atum, postita de bacalhau e , em dia mais farto, a carne de porco.

Borrego ou cabrito são para as festas. Ao Domingo pode fazer-se um guisado (que rende mais) com carne de vaca, ou assar-se um cachaço de porco.

As despesas mais importantes do orçamento mensal são a electricidade, o gaz, a água e o padeiro. Logo depois – ou antes, dependendo da idade do visado – vem a farmácia. E só depois disto a mercearia e o talho. Não se larga a TV Cabo, única distracção destas gentes. Muitas vezes vai ver-se o jogo ao Café ou ao Clube da terra (que ainda tem a SportTV),  mas a antigamente chamada “vida de café” , as mesas de sueca acompanhadas pelos copitos, tardes fora, isso tem acabado com a crise.

Durante as minhas “férias” locais e mesmo descontando que trago sempre peixe de Cascais, nunca consegui gastar mais do que 120 ou 150 euros por semana, incluindo jornais, idas ao supermercado e pagamento de alguma conta que vejo em cima das mesas

Comparando essa verba com aquilo que gasto aqui em baixo, cada vez me convenço mais que o nosso futuro será lá na quinta… O único problema será encontrar alguém que saiba vergar a mola para cavar as batatas, ou ( muito duvidoso) começarmos eu e o senhorio já a treinar para isso… Como dizem que a necessidade é a mãe da invenção nunca se sabe se sairão daqui dois lavradores…


 

Nenhum comentário: