quarta-feira, novembro 23, 2011

O assombro do Marciano que regressa à Terra

A perspectiva que alguém de fora (muito de fora, tão de fora que parece exagero) terá sobre os hábitos indígenas tem pelo menos a vantagem de pôr a claro algumas "verdades" que, por serem assim demasiado evidentes,  às vezes se ignoram...

Esta "fresca" visão das coisas é conhecida da literatura, por exemplo  a famosa parábola "O Rei vai Nu" onde, como todos sabem, foi preciso  vir uma criança "desmontar" o cenário grandioso tecido (diríamos mesmo "drapeado") em volta da vaidade humana.

Vem esta conversa a propósito do célebre  texto anedótico que mete um Marciano, depois de ter vindo à Terra, a contar o que por cá viu aos outros Marcianos. Entre muitos disparates deliciosos retomo este:

"-Lá na Terra quem manda mais são uns seres que parecem uns Postes Altos e  que estão pregados no chão em certos locais. Mudam de cor, e conforme essas ordens os Terrráqueos das classes inferiores param ou avançam. E nem precisam de abrir a boca para serem obedecidos... tal respeitinho devia também existir aqui em Marte!"

Os semáforos mandantes do turista Marciano estão de volta. Falam pouco ou nada...E mandam que se farta! São altos e magros, transportam sempre umas pastas, viajam em viaturas negras de grande cilindrada, trajam por norma fatos de 3 peças de tons escuros, usam a Montblanc para assinar contratos e externalizam no Paquistão ou na India os call centers das suas empresas, depois de terem para lá mandado instalar as respectivas fábricas...

Vivem em Paris, Londres, Nova Iorque ou em Genéve. Constituem uma classe à parte da dos outros mortais. O seu objectivo na vida é construir uma imortalidade feita de papel (sonante) que lhes permita perpetuar hereditariamente o respectivo domínio que têm  sobre as classes "inferiores"...

Foram os causadores da Crise ( de todas as crises). Agora brincam com as dívidas soberanas, tentanto tirar dividendos pessoais desta "guerra surda" que opôe o USD ao Euro...

Não se preocupam nem nunca se preocuparam com os "danos colaterais"... Se as suas decisões nos mercados levarem à falência e ao desemprego de milhões, não será por isso que dormem menos horas...Fazem a Guerra e decidem quanto à oportunidade da Paz.

São aparentemente "invisíveis" e utilizam como marionetes aqueles que dão a cara e que os representam nos fóruns públicos: os Ministros das Finanças, os Primeiros Ministros, as Chanceleres, e etc...

Apoiam hoje um Presidente de um País terceiro mundista e amanhã fazem-no cair, consoante as alterações no preço dos metais em Tóquio ou do café em Chicago... Lucram, (podem crer que sim!) muito, imensamente, com esta Crise.

E , para voltar ao ponto como começámos a conversa,  imaginem que  o tal turista Marciano pudesse reportar aos seus conterrâneos (salvo seja) que, tendo regressado à Terra, viu muitos daqueles postes "mandões" no chão?

Inclemência! Caos no Trânsito! Desgraça !  (dirão alguns, agarrados às regras da sociedade antiga, feitas por esses mariolas de fato completo) .

Mas reparem que  pode ser necessário desmontar a actual Sociedade para construir alguma coisa de diferente... Uma "coisa" onde não mande o mais alto e o mais magro , só porque lhe puseram um software de mudança de luzinhas às cores...

 De facto, não sei se notaram que há mais carros do que semáforos. Se um carro se zangar com um semáforo e marrar nele, quem ganha? E se forem 100, uns atrás dos outros?

Daqui a nada estão a chamar-me Otelo... mas não importa.

Saúdo daqui a Greve Geral de amanhã.  Abaixo os Semáforos!

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