terça-feira, novembro 22, 2011

Homo Sum...

homo sum: humani nil a me alienum puto

Sendo Homem acredito que nada do que é humano me deve ser estranho... Famosa frase de Terentius (um autor de comédias que terá vivido em redor do ano 180 AC)...

A palavra latina  "putus" significa "menino" (verdade!). Mas aqui  é utilizada a forma "ut puto"  que se poderá traduzir livremente como "conforme creio".

Nota: O Blogger não é latinista nem sequer formado em  Humanidades. Adiante se verá porque começou desta maneira pseudo erudita o Post.

Tudo tem a ver com a confissão pública de um dirigente da Cáritas sobre a sua incapacidade para lidar com as necessidades cada vez maiores dos novos indigentes nacionais... E quando apareceu por momentos nos horizontes deste gente que trabalha nas Organizações de Solidariedade Social a nuvem negra sobre um pretenso corte dos fundos comunitários destinados a estes fins de benemerência, ainda pior!

Parece que os bancos alimentares, as paróquias que possuem cozinhas comunitárias,  etc... cada vez mais veêm aparecer à porta novas caras e novos encargos.  Tratar-se-ia de gente que já pertenceu à classe média, mas que agora ( por ter sido despedida, ou por lhe terem caído em cima dos ordenados com os cortes) depois de pagar o que deve às Finanças, depois das despesas fundamentais de um agregado familiar (EDP, Águas, Escola)  já não tem dinheiro para comprar comida.

Não acho estranho. Todos nos situámos face às despesas em função daquilo que recebíamos antes.
Quando o rendimento disponível baixa para (nalguns casos) metade daquilo que era noutros tempos  - e vá lá, vá lá, que assim ainda se mantém o emprego! - é perfeitamente normal que já não seja possível pagar todas as despesas com que nos tínhamos comprometido...

O que fica para trás? O supérfluo obviamente: o tabaco, as saídas de copos, o cabeleireiro, o comer fora, a roupa nova, o judo dos miúdos, a TV Cabo ... E se mesmo assim o dinheiro ainda não dá?

Estaciona-se permanentemente o automóvel à porta de casa? Tiram-se as crianças da escola? Deixa-se de pagar o seguro do carro? E por aí fora, até chegarmos à comida...

Muitas famílias portuguesas estão assim. E o pior é que as maiores despesas que lhes mordem a carteira não são (infelizmente) descartáveis como o bolo do pequeno almoço ou o café depois do jantar...São os encargos dos empréstimos bancários, os juros dos cartões de crédito (assombrosos!), e outras coisas desse género.

E mesmo que os outros que ainda podem alguma coisa queiram ajudar, muitos deles devem estar a olhar para dentro e a ruminar "E se isto me vai acontecer também? Pôrra!!"

Daqui apenas uma lembrança aos Amigos: compreendo bem o escrúpulo em abrir os cordões às bolsas nestas épocas, MAS nem só com dinheiro se pode ajudar... Não haverá lá em casa roupa que já não serve aos "putos" , livros infantis ou outros que se possam dispensar? E se algum dos adultos emagreceu por moda, não poderá dispensar a roupa dos outros tempos, até em incentivo para não voltar a engordar?

E falhando tudo isso, ou mesmo com tudo isso mas sem meter dinheiro na conversa, não sobrarão umas horas aos fins de semana para ajudar com o corpinho? Para nos voluntariarmos para alguma ajuda?

Hoje serão "eles", os "outros", que estão "à rasca"...Nada garante que amanhã não possamos vir a ser nós, ou alguém que nos seja próximo.

Leiam  os comentários de Vasco Pulido Valente na entrevista magnífica que deu a Pedro Lomba no caderno 2 do Público de ontem.

E assustem-se como eu me assustei...

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