terça-feira, novembro 25, 2008

Louvor do Fialho


Tendo deixado aparecer primeiro - et pour cause - a crónica do Zé Quitério no Expresso sobre a ida a Évora e o reencontro (mais dele) com o Fialho, já estou hoje mais à vontade para falar da mesma aventura onde tive a sorte de ser um dos convivas...

Já nos apercebemos da crónica de Sábado passado que um dos 4 almoçantes estava com a "víscera estragada". Era o David, queixando-se amargamente dos exageros que experimentou em casa de Dirk Nieepoort, provando numa noite não sei quantos vinhos do grande especialista.

Fui o primeiro a chegar e, convicto do segredo que o Zé quer sempre imprimir a estas suas demandas, apenas disse que esperava alguns amigos, mas que eram gente de respeito... a filha do Gabriel, que estava infelizmente em casa acamado com uma crise de asma , mandava nesse dia nos fogões. Uma menina (hoje com dois filhos) que conheci muito bem em Cascais quando ela estava a tirar o curso na escola de Hotelaria.
Faziam ainda parte da campanha: O Zé, o David Lopes Ramos e o Pedro Rodrigues (proprietário do Vírgula).

Começámos com pouca pujança, mas logo em níveis de excelência, com pastéis de massa tenra, empadas de galinha, croquetes de carne e pata negra de boa e especiosa cura. Avançámos depois para a degustação propriamente dita.

Não sei se sabem, mas neste tipo de refeições para "avaliar" moradas e cozinheiros é costume pedirem-se uma série de pratos que depois são divididos por todos os convivas, cada um deles dando seguidamente a sua opinião.

Nesta ocasião veio Pescada cozida para o coitado do David, cujos olhos até choravam a olhar para o resto... E nós os três avançámos para : sopa de cherne à alentejana (soberba) ; pézinhos de coentrada (bons de morrer) ; perdiz à moda do Convento de Alcantara (excelente, mas bicho meio aviárico); arroz de pombo (sápido qb) e terminámos com o Borrego assado no forno (esplendoroso).

Obviamente que quer o Zé ,quer o David (quer também o vosso amigo blogger, mas num outro registo) são amigos desta casa e "compagnons de route" do Amor e do Gabriel, mas o certo é que nos deu muito gosto ver que a Casa Fialho está ainda ali para as curvas e, mais do que isso, que tem já na Filha do Gabriel mão segura e braço de timoneiro que nos auguram uma calma passagem do testemunho quando e se tal for necessário.

Vinhos? Bem, o dinheiro do "Balsas" só estica até determinado ponto, pelo que houve que fazer alguma contenção e depois uma batotazinha. Assim começámos com um branco sem pretensões, do ano, da Pesseguina e evoluímos para um Tinto Soberana da gama média. Para o final o raulzinho fez-se à estrada e ofereceu à mesa uma garrafa do novíssimo Mouro de rótulo de ouro de 2005 e que nos deixou de boca à banda e a cair para o lado em tudo, desde o preço - 95€ no restaurante, cerca de 50€ na produção - até à extrema qualidade .

Por acaso o Produtor - Miguel Louro - que estava na mesa ao lado - logo se sentou ao pé de nós, discutindo as qualidades deste seu último "menino de ouro" porventura o melhor alentejano que me passou pelo estreito nos últimos anos. Negro, retinto, de força hercúlea, cheio de especiarias e tabaco, ao fundo uma promessa de frutos pretos e de baunilha, promessa essa que nos vai fazer esperar uns 3 ou 4 anos para vermos se se concretiza.

Acabámos em beleza com uns doces conventuais e um malte velho.

Quando saímos de Évora, já pelas 18.00 (!) vínhamos todos com uma beatitude espelhada na chapala que até parecíamos uns frades capuchinhos saídos do refeitório em dia gordo...

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