segunda-feira, fevereiro 08, 2016

Brincar ao Carnaval?


Nunca gostei de carnavaladas.

E reparem que sou do tempo em que o Sr. Teodoro "das Malas" convidava a Claudia Cardinale e o Mauríce Chevalier para abrilhantarem o corso do Estoril... Tempos em que este Carnaval do Estoril competia , na Europa, com o de Veneza e com o de Nice. O Carnaval do Rio de Janeiro já nessa altura pertencia a outra liga.

Os meus pais insistiam para que me mascarasse, porque era "moda", toda a gente o fazia. E eu irritava-me, amuava e devia passar os mais tristes 3 dias do ano armado em "campino" ou em "toureiro" de trazer por casa...

Isto durou até ao meu grito pessoal de "Independência ou Morte", que não foi dado nas margens do Ipiranga como o do D. Pedro, mas ficou famoso à beira da Praia da Poça. Teria eu uns 12 para 13anos.

Mascarar-me nunca mais. Se insistissem, eu trataria de dar cabo da fantasia nem que fosse rebolando com ela pelo chão. E como as ditas cujas se alugavam, acho que consegui que a entidade paternal visse a razoabilidade do pedido do "Je". Poupava dinheiro ao erário familiar e deixava de passar uns dias desgraçado.

O meu filho (e senhorio) penso que se mascarou algumas vezes a pedido da escola onde andava, mas nunca com o meu entusiasmo e dedicação. A Natália é que tratava disso. E como a criatura saiu a mim nalgumas matérias ( excepto na simpatia clubística) cedo essas bernardas também acabaram.

Claro que na adolescência tardia que eu tive, quando já ganhava o meu ordenado na faculdade e ainda vivia com os meus pais, essas noites de Carnaval eram apenas mais um pretexto para a perseguição às miúdas. Nessa quadra  a cama parecia uma promessa mais longe que perto, que seria utilizada lá para a Quarta Feira de Cinzas.

Houve um Carnaval em que alugámos uma casa na Costa da Caparica e - juro - nem vi a cor dos lençóis dessas camas nas duas noites que por lá passámos. Perguntarão os mais atrevidos "Se não viu a cor dos lençóis como resolveu o "resto do assunto". Ou assuntos?"

A resposta é que os "assuntos" foram-se resolvendo noutras paisagens. Com  destaque para os tapetes do chão. Sem esquecer a banca da cozinha, pois já nesse tempo me entretia muito com os tachos...

Já mais tarde, enquanto os CTT trabalhavam na Terça Feira de Entrudo  - durante anos este feriado foi trocado no nosso AE pela véspera de Natal - criámos um grupinho que nesse dia ia sempre almoçar uma feijoada de cabeça de porco. Na Casal Ribeiro eram famosas as cenas da Manuela atrás do Sr. Novo, (o nosso motorista) a tentar maquilhá-lo ,e ele a fugir aos gritos "Isso não D. Manuela! Isso não!". E a Isabel Galrito normalmente disfarçava-se de homem, metia uma cenoura  bem à vista na braguilha e ia visitar as salas dos outros colegas.

Ou seja, mesmo que nunca fosse fanático do Carnaval, a pose desses dias mais endiabrados não deixava de influenciar o meu comportamento, sobretudo se a envolvente o merecia.

E hoje? Sopas e descanso?

Está mais para aí do que para outro lado. A única fuga ao comportamento habitual é que mantenho em minha casa a tradição da feijoada ( com feijoca grossa da Serra da Estrela) para o almoço da Terça Feira Gorda.

Quanto ao resto? Nem me dá para ver na Globo o desfile no Sambódromo...

É a idade.

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