sexta-feira, novembro 14, 2014

Para Descansar a Vista

Do grande Poeta Manoel de Barros, agora desaparecido, relembro alguns poemas :

O fazedor de amanhecer

Sou leso em tratagens com máquina.
Tenho desapetite para inventar coisas prestáveis.
Em toda a minha vida só engenhei
3 máquinas
Como sejam:
Uma pequena manivela para pegar no sono.
Um fazedor de amanhecer
para usamentos de poetas
E um platinado de mandioca para o
fordeco de meu irmão.
Cheguei de ganhar um prêmio das indústrias
automobilísticas pelo Platinado de Mandioca.
Fui aclamado de idiota pela maioria
das autoridades na entrega do prêmio.
Pelo que fiquei um tanto soberbo.
E a glória entronizou-se para sempre
em minha existência.


Tratado geral das grandezas do ínfimo

A poesia está guardada nas palavras — é tudo que eu sei.
Meu fado é o de não saber quase tudo.
Sobre o nada eu tenho profundidades.
Não tenho conexões com a realidade.
Poderoso para mim não é aquele que descobre ouro.
Para mim poderoso é aquele que descobre as insignificâncias

(do mundo e as nossas).
Por essa pequena sentença me elogiaram de imbecil.
Fiquei emocionado.
Sou fraco para elogios.


Nota: Manoel de Barros foi (e é, poeta não morre!) um dos grandes poetas brasileiros de todos os tempos. Lá para os confins do Mato Grosso e do Pantanal exerceu o seu múnus publicum, ao mesmo tempo que tomava conta da fazenda paterna.
Para ele "a Frase era mais importante que a verdade, mais importante que a própria fé". Logo por aqui se entende o apego que desde muito novo sempre teve com o Padre António Vieira, grão-mestre da língua lusa.
Leiam aqui sff:
http://www.releituras.com/manoeldebarros_bio.asp

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