quarta-feira, setembro 05, 2012

Casa da Pêga (importa-se de repetir??!!)

Reunião na Casa de Camilo em S. Miguel de Seide. Admirável edifício de mestre Siza, perfeitamente integrado na bucólica aldeia minhota que viu a morte e a vida do grande escritor. Tratámos da edição de um Postal Inteiro que comemore os 150 anos da publicação do Amor de Perdição.

Terminada a reunião pelas 12,30h houve que arranjar poiso manducal. Havia sempre a hipótese de Famalicão, ali perto, onde parece que o velhinho Tanoeiro perdeu fulgor , mas brilha agora o restaurante Ferrugem, de cozinha mais modernaça embora ancorada em matéria prima local.

Mas por aí não fui.

Falaram-me de um restaurante simples e à moda da terra minhota, que se chamaria "Casa Pêga" ou Casa da Pêga" . Pelo nome foi fácil de encontrar a meio caminho entre Famalicão e Seide, na freguesia denominada Antas . Quem, nesse caminho de Famalicão para Seide,  vislumbrar por cima do tejadilho do carro o viaduto da Via Rápida Braga-Porto (convém mesmo ser apenas vislumbrar de relance, não vá a viatura chocar de frente com alguma parede enquanto a vista se perde para cima...) já sabe que ali vira à direita e depois num instantinho está no tal "Casa  Pêga".

Casa Pêga
Rua 8 de Dezembro 2316
Vila Nova de Famalicão (Antas)
4760-016 VILA NOVA DE FAMALICÃO
Distrito: BragaTelefone - 252374175

Sala ampla, barulhenta que baste, cheia até dizer chega. Irmão e irmã a tomar conta das ocorrências com alguns sobrinhos, tudo à civil, sem fardamento. Entra-se por um terraço fechado por marquise em alumínio  (de fugir). Passa-se entretanto por uma espécie de corredor amplo que aparentemente "tem cozinha à vista" de ambos os lados. Até que atravessando mais uma porta se entra na tal sala de jantar ampla.

Mesa posta com roupa séria, e idem para os guardanapos. Um "Plasma"  a dar a SportTV mesmo em frente e por cima da porta de entrada. Felizmente sem som.

Ambiente familiar (até demais) e  decoração completamente kitsch. Para lá do kitsch até, do género: "Olha que tenho para lá isto em casa, onde é que o posso pôr até me lembrar de mandar fora?"

Então, dirão os leitores, se o ambiente é ruidoso que se farta, se a decoração é de fugir ou de entrar com óculos escuros e nunca mais os tirar, porque é que estou a gastar tanto latim com esta locanda?

Bem, porque se come estupidamente bem... E quem lá vai são as pessoas de Famalicão e até do Porto... Tudo gente conhecida que acha graça às manias dos proprietários , que tratam (e são tratados) pelos nomes próprios...


O que se come na Pêga: Rojões à moda do Minho; Cabrito assado no forno; Vitela com favas; Mão de vitela com grão; Vitela assada no forno; Cozido à Portuguesa;  Bacalhau à casa, à Brás, Bacalhau Assado, Bacalhau em bolinhos com arroz do mesmo, e Peixes frescos variados, assados, fritos ou cozidos. 
Para sobremesa o verdadeiro e quase mitológico "melão pimenta" do Minho, aquele casca de carvalho que os apreciadores gostam muito maduro, para saborearem o apimentado.

Naquele dia havia Marmotas fritas com arroz de pimentos, Fanecas fritas com arroz de tomate ( os arrozes trocavam);  Robalo da Apúlia assado no forno com arroz de grelos e batatinhas.

Bolinhos de bacalhau e arroz de bacalhau saíam sempre. Era um ver se te avias!

Comi deles, provei uns enchidinhos do cozido, ainda arranjei lugar para umas tascadinhas de vitela assada e tive (cheio de pena!) que recusar uma tijelinha de mão de vaca...

O vinho branco da casa é de Felgueiras e não apreciei muito. Mas o verde tinto da casta Vinhão, servido em jarro, é muito bom. Fora isso, à parte a proletária escolha,  a carta de vinhos tem qualidade, com os  Douros em proeminência.

Existe uma bagaceira branquinha de vinho verde, feita ali mesmo em Abade de Vermoim, que é de cair para o lado, praticamente só a cheirei, porque tinha mais de 350km pela frente ainda...

Em conclusão: Paguei 24 euros. Teria pago uns 14 ou 15 se fosse mais contido nas provas... Gostei e fiquei cliente. Mas não é local para levar metrosexuais ou outras criaturas "ligadas" às marcas, à moda ou à estética... Teriam um xelique (ou dois).

Pensando melhor, essa circunstância até me tornou esta casa ainda mais simpática...

2 comentários:

CSilvério disse...

Ali para os lados do Montijo há uma "Taberna dos Cabrões". Se calhar foi para onde migrou o marido da senhora. ;-)

Anônimo disse...

Nao se come nada mal na dita tasca do Montijo, de estilo aparentemente semelhante a da dita casa minhota ( atenção que em Italiano o termo mignotta é sinónimo vernacular de pêga .... )
Abraco