quarta-feira, outubro 19, 2011

A Clivagem Absurda entre os Trabalhadores Nacionais

O editorial do "Público" de hoje, jornal insuspeito de ter simpatias de esquerda ou "trabalhistas", transmite uma observação válida e pertinente: a de que a política orçamental do actual governo tem por consequências criar uma divisão do país entre os Funcionários Públicos e (Trabalhadores do SEE- Sector Empresarial do Estado) e os "outros", os restantes Trabalhadores. Esta divisão só pode agravar os problemas sociais

Sem querer voltar a "chover no molhado" agarro nestas palavras para tentar desmontar a argumentação do Dr Vitor Gaspar sobre as razões desta situação de ataque frontal ao funcionalismo e aos trabalhadores das empresas públicas.

Oficialmente existem duas ordens de razões:
a) Em média os trabalhadores do SEE ganhariam 10% a 15% a mais do que a média dos outros Trabalhadores portugueses.
b) Os trabalhadores do SEE têm segurança de emprego assegurada, o que os "outros" não têm nestes tempos de Crise.

a) Quanto à argumentação sobre os "salários mais elevados" trata-se de uma demagogia indigna de alguém que (segundo dizem) está conotado com a famosa Escola de Chicago de economia, de onde saíram alguns dos melhores econometristas do mundo (os que se dedicam à análise matemática dos factos económicos).

De facto a média dos vencimentos dos Trabalhadores do SEE é superior à dos outros trabalhadores porque esse conjunto engloba "apenas" os Médicos, Enfermeiros, Professores de todos os níveis educativos, Juízes e Promotores da República!! Mesmo sem contar com os cargos de altos e médios  dirigentes do Estado e das Empresas públicas com cursos superiores, parece evidente para qualquer pessoa que saiba contar que estas profissões com habilitações superiores auferiam maior salário na actual e anterior sociedade nacional do que  o conjunto formado por "todos os outros Trabalhadores"... Se querem fazer comparações vamos fazê-las ponderadamente, profissão a profissão. Não querem? Compreendo porquê.

b) Agora a velha e relha questão da segurança no Emprego Público, a qual teria como consequência um baixar de salários à laia de "compensação".
Nem me meto pelas análises mais ou menos filosóficos deste assunto, segundo as quais o Trabalho é um valor sagrado,  a segurança de emprego é um direito de todos, e não um bem negociável do tipo " se aceitas receber menos de tal, garantimos "x" anos de trabalho".  Mas tratando-se de uma estratégia que era apanágio do Estado Novo importa agora saber porque motivo foi repescada por estes "Liberais".

Em primeiro lugar quem disse que existe segurança do emprego público actualmente? Pode existir hoje e amanhã, dia 20 de Outubro, mas já não garanto que exista a 22 de Janeiro do ano que vem, ou quando se implementarem as grandes medidas de racionalização nos sectores deficitários (Transportes...).

E depois, porque este mesmo Estado já usa e abusa da figura do contrato a prazo e da prestação de serviços a recibos verdes. Serão estas formas de trabalho "seguras"?  Hipocrisia para quê?

Conclusão: Deveria o Sr. Ministro e o Governo não darem desculpas e falar verdade: O país não pode pagar as suas obrigações para com os trabalhadores do SEE e , ao mesmo tempo, cumprir o que foi acordado com a Troika. Não há dinheiro que chegue para tudo.

Alternativa 1 - Cumprir as suas obrigações e despedir 50,000 a 100,000 trabalhadores.

Alternativa 2: Deixar andar até chegarmos à bancarrota. Sem dinheiro para pensões, nem para salários, nem para o SNS, nem para a Educação,  Portugal vê-se obrigado a pedir a saída do euro para poder imprimir mais moeda. No dia seguinte estaremos transformados numa Cuba ou Albânia da Europa. Um escudo vai valer para aí um milésimo do Euro. Como para comer (infelizmente e por culpa de quem todos sabem não há Agricultura nem Pescas) não chega o que produzimos - nem para a cova de um dente -  começa a racionar-se a alimentação disponível, o combustível e os medicamentos. Quem viver perto do comboio já não tem comboios, quem viver perto das AE (que as há em barda) não vai ter dinheiro para a gasolina. Cavalos? Carroças? Logo se veria...

Alternativa 3: Renegociar com a Troika uma dilacção do prazo de ajustamento orçamental. que permita ao país chegar aos resultados pretendidos mas mais lentamente, sem convulsões sociais nem dor e ranger de dentes..

Se fossem os Leitores a escolher por onde iram? 
Pois claro. E não era preciso serem Cientistas da NASA ou Neurocirurgiões da Mayo Clinic para chegarem a essa conclusão.

Nota final - Dizem os entendidos que o Governo só espera pelo final de 2012 para ir por aqui, por esta Alternativa 3.  A questão que muitos colocam é se vale a pena este orgulho em aguentar 13 meses face aos problemas que por aí virão? E a Troika aceitaria? Que remédio...Vejam o que vão fazer com a Grécia. Mais vale pagar tarde e com juros (honestos!!) do que nunca mais pagar.

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