quinta-feira, agosto 16, 2012

Depósito, Adepôsito e Adipósito

Um Depósito, aqui na Beira Alta, é um contentor para o vinho, normalmente de aço inoxidável. Se for de madeira (carvalho ou castanho)  é mesmo tonel ou barrica, como no resto do país.

Um “Adepôsito” será um Depósito lá para baixo, para o nosso Alentejo. Um Depósito em Beja!

Um Adipósito ou Adipócito  é o nome científico  das células que armazenam a gordura do nosso organismo. Estas gajas podem trabalhar mais ou menos. Quando trabalham bem armazenam que se fartam, aquelas P****! Quanto trabalham mal armazenam pouco ou assim-assim.

Nota: A mim logo me havia de calhar uma brigada de adipócitos trabalhadora que se farta! Nem uma greve em 57 anos de vida ativa! Olha que Pôrra!!

Vem esta conversa a propósito do efeito do álcool na obesidade. Na prática o que se pretende saber é  se o trânsito do Adepôsito para o Adipócito (caso seja vinho de Borba , por exemplo) traz influências nefastas em termos do aumento do peso e do volume da verdadeiramente besta que presidiu à trasfega.

As opiniões vareiam, não no sentido médico e científico do assunto (o qual pouco interessa) mas sobretudo baseados em provas práticas derivadas da observação direta dos casos em si.

E em relação a essa visão mais prática, observa-se que  alguns dos impetrantes são secos como um moreia fumada apesar da litragem que levam no conta-litros , enquanto que outros – sobretudo os mais dados a confraternizar com a lourinha – não deixam de exibir a conhecida “barriga de cerveja” .
Este assunto – que como podem imaginar me fascina quando não tenho mais nada para fazer – por vezes substitui para meu agrado as conversas da noite sobre a política aqui na serra, com a enorme vantagem de evitar que as pessoas se insultem mutuamente mais do que o costume.

-“O Raulzinho é todo ele “mociço” ! Nem tem corpo de bacalhau seco  nem de barriga de mijo! Deve ser porque bebe de tudo! He! He! He!  Já ali o Zé tá mesmo cozido por dentro do bagaço! Nem furos no cinto já tem!”

-“E tu podes falar Oh Manel da Bezerra? Para veres os C**** tens de pôr um espelho no chão! De tanta cerveja que emborcas!”

-“Mau, Mau, Maria! Alguém lhe faltou ao respeito? Vomecê dorme com uma garrafa de Sagres cheia de bagaço por debaixo da cama e é isso a primeira coisa que bebe quando acorda! É que nem vê nada antes de beber!”

E assim continuam as nossas alegres discussões noctívagas. Como se vê sem insultar ninguém.

Uma coisa parece mais ou menos certa, da observação que venho fazendo da malta aqui de cima: Um verdadeiro profissional da bebida, come pouco e terá tendência a ter um aspeto físico mais “alongado e ressequido”. Um outro que à refeição “não perdoa” nem a secos nem a molhados, mas que depois é capaz de nunca mais ingerir álcool entre as ditas refeições, pode ser e normalmente é mais nutrido, mesmo “gordo”.

 E ainda há aqueles que são o “dois em um”: Só param de comer e de beber quando dormem. E não dormem assim muitas horas por noite. O aspeto físico destes é o que menos interessa, dado que infelizmente não costumam andar por cá muitos anos…












A pessoa que mais me impressionou a beber foi uma mulher. A 1ª esposa do Sr. F*****,riquíssimo, grande conhecedor de vinhos e produtor de grandes marcas na Alemanha, em Portugal (Douro) e em Espanha. Essa senhora – que quando a conheci teria 40 e picos  anos, e boa figura embora “germânica” , alta e  bem constituída mas nunca gorda – começava o jantar com uma garrafa de Dom Pérignon, continuava com uma de Barca Velha, ia por ali acima com meia de Porto Vintage com o queijo e nunca se retirava sem ”aviar”  um balão de Aguardente Velha Ramos Pinto!! Ela e o marido tinham contas “interessantes” no Beira Mar, algo como 40 contos de vinho e 8 contos de comida… E isto no tempo dos “contos de réis”, lá para 78! Quando um Assistente Universitário (moi!) ganhava 12 continhos por mês…

Num registo mais popular e proletário, também tive ocasião de confraternizar com um colega do Judo do Estoril que tinha por alcunha “O Marabunta”. Magro e baixote , era temível à mesa. Comia a dose dele e andava por baixo da mesa a ver se lhe calhava mais alguma coisa da dose dos outros. Quando estávamos na Feira Popular  a festejar um dos nossos campeonatos nacionais por equipas, cheguei a vê-lo comer 3 frangos assados inteiros com largas doses de batata frita (porque só Frango o enjoava)   à compita com outro colega. Devo dizer que, para o volume do corpo foi este o maior comedor que conheci. Raça e génio em 1,65cm e uns magros 63 kg! E só bebia cerveja! Mas um grande Atleta.

Agora, se quisermos eleger o “Campeão Olímpico de Todas as Categorias de Peso” essa distinção – na minha experiência – deve ir para o Sr. Casinhas dos Mármores de Negrais ex-aequo com o Sr. Visser, nosso Agente de Filatelia em Dordrecht (Países Baixos).

O famoso “3cús” já aqui referido e o Sr Visser tinham corpos semelhantes , mais largos que altos ambos, cerca de 140 Kg em menos de 1,80m. E comiam e bebiam desalmadamente!  A um vi comer uma leitoa  e meia inteira sozinho, ao outro um salmão fumado completo! E não foi apenas isso que comeram nessa refeição!

Hesitei se havia ou não de referir  também o Sr. Rainha nesta competição. Mas o meu Amigo Rainha estava numa categoria à parte que tinha de ser criada apenas para ele: Não só exibia um apetite de autêntico “alarve” como depois, na sua prática, era um tremendo conhecedor e epicurista na mesa, delicado, de conversa agradabilíssima e com uma particularidade estranha: por muito que bebesse o grau álcool pouco lhe subia! Fizémos testes com o auxílio de uma capitão da BT , nosso amigo, e a verdade foi esta: Enquanto que eu e o Paulinho Mendonça quase fazíamos apitar o "soprante" , o Sr. Rainha mal fazia mexer a escala...
Um autêntico Gourmet dentro do corpo de um bom gigante, cuja memória aqui saúdo com muita Saudade! 

Assim me despeço que o raio da conversa hoje está a fazer-me  fome. Ala para o Santa Luzia!!

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