segunda-feira, agosto 13, 2012

Crónicas da Serra 1

Bom tempo, embora fresquito. Chuva não se vê por aqui desde o Inverno passado. E essa foi pouca. O que vale é que a quinta está no sopé da serra e aproveita muitas das águas correntes que por ali nascem, mas se a seca continua não haverá remédio.

Ontem à noite fizemos uma sopa de espinafres e abriu-se um presunto já com mais de um ano de cura, feito cá em casa. Rijo mas saboroso, à moda dos presuntos daqui de cima que começam por ser  muito bem lavados com vinho branco, vão primeiro ao sal por uns 2 meses e  depois ao fumo por mais uns 4 ou 5. A partir daí são cobertos por uma pasta de pimentão e deixam-se secar ao ar.

Hoje asso bacalhau no forno com as batatas da nova semente “eagle”, brancas por fora e amarelas por dentro, que o meu cunhado estreou este ano. Dizem que são excelentes. Muita cebola nova e alhos compõem o ramalhete que só fica acabado com a pimenta preta e o azeite extra virgem das nossas oliveiras. O bacalhau de cura amarela veio do “Corte Inglês”. Até tenho vergonha de lhes dizer , à malta aqui da terra, quanto custou o kg…


Cada vez se fala mais de política, e obviamente mal.
-“Está tudo cada vez pior . E os rapazes não arranjam emprego!”
O problema do desemprego é o que se sente mais. E ninguém parece seguro do seu futuro. Têm medo das falências e dos cortes nas reformas e na segurança social. Vai valendo a terrinha. Muita gente que já tinha abandonado a lavoura está agora a plantar de novo umas batatas ou uma horta, pois dá cada vez mais jeito aliviar  a conta dos supermercados.

Outra coisa que notei foi a descrença na educação:
-“Estudar para quê? Para ficar Desempregado? Mais vale ir para o Luxemburgo ou aprender um ofício.”
E como a dita educação vai ficando cada vez mais cara, junta-se o útil ao agradável. Imaginem o “caldo de cultura” que  a crise vai construindo…
Os casos como “o do Relvas” são evocados por todos. E a pergunta que muitos fazem é quase sempre a mesma:
-“ Mas quem foram todos os comilões que se encheram à nossa custa? E não são julgados? Não se apuram responsabilidades?”
E logo respondem eles mesmos:
-“Neste desgraçado deste país nunca um Ministro foi condenado! Nem no tempo do Salazar! Não é agora que vai mudar…”

Estas perguntas, com maior ou menor enfâse, serão feitas na serra e na planície, nas cidades e nos campos, ao pé do mar ou lá para cima , para o cume da mais alta…
E alguém que conheça esta boa gente irá descortinando, por dentro da complacência habitual, laivos de raiva controlada que vão sendo cada vez mais evidentes e frequentes. Até quando se contêm?

Bem, para tirar a cabeça destas preocupações por uns tempos, vamos receber os amigos e parentes  esta tardinha. Parto para me abastecer do “material” para a romaria: febras e sardinhas. Vinho branco e tinto já cá está na adega. Vai abrir-se o de 2011.
Nós em casa temos bebido o famoso tinto da colheita de 2008 (um monstro de 15.5º feito cá) , mas desse não damos a beber nestas farras, que é mal empregado e já só temos 1 ou 2 garrafanitos… E , aqui para nós, depois do 12º copo marcha quase tudo, até capilé….

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