Já cá tivemos uma conversa deste tipo: porque motivo existem restaurantes que teimam em oferecer pratos fora de época aos seus clientes, não deixando que o espaçamento das estações do ano lhes espevite o apetite para as coisas boas que se podem usufruir nas suas épocas próprias?
A propósito da Lampreia o Paulinho Mendonça até esgrimiu bravamente contra essas "modernices" de ter tudo durante todo o ano, graças aos progressos na tecnologia de congelação.
Em Baião, onde procurei algumas garrafas de vinho típico da região de transição entre o Douro e a zona dos vinhos verdes - único local do país onde este vinho se pode encontrar - fui almoçar à Pensão Borges, vetusta e amabilíssima casa de restauração que, por ser Sábado, apresentava o seu monumental "Cozido à Portuguesa"... E no Domingo teria o "Anho assado no forno" mais a "Vitela assada".
Restaurante da Residencial Borges
Rua de Camões
4640-147 BAIÃO
Telef - 255 541 322
Entradas: Miúdos de Anho, Carne em Vinha de Alhos.
Peixe: Bacalhau assado à moda da casa com batatas a murro.
Carne: Anho assado no forno de lenha sobre arroz de alguidar (Domingos e Feriados); Cozido à Portuguesa (Sábado), Alheiras; Vitela Arouquesa (Domingos e Feriados); Bazulaque; Entrecosto e Costeletas de vitela.
Doces: Doce da casa, Pêra em vinho da terra.
Nota: Bazulaque é um antigo prato de casamento feito com as vísceras do borrego ou carneiro, guisadas até assumirem uma consistência semelhante a uma sopa grossa ou açorda ribatejana.
Um gajo não é feito de pedra e cal. Em princípio e por princípio almejei mandar vir outro prato da carta (contida embora). Mas ao ver passar as travessas fumegantes do cozidinho, tão bem aparelhadas que fariam inveja às mulas de Sua Majestade D. João V (o Magnânimo) caíram por terra as boas intenções. Até caíram as boas, as assim-assim e mais ainda as más intenções. Caíram todas pelo apetite do insidioso Cozido.
Os emigrantes não pediam outra coisa... O proprietário conhece a sua clientela, muitos deles fazem de propósito o curto trajeto do Porto até ali (cerca de 40 minutos) para "ir ao cozido"... E este, verdadeiramente, deslumbra, embora feito com repolho e não com as couves da horta de Inverno, como soía. Ah, e aviso já que farinheira e nabo não fazem parte desta tradição em Baião.
Pé e joelho de porco ali criado na terra; chouriça, salpicão, paio do lombo, entremeada, tudo local. Galinha caseira, morcela de Baião, pá de vitela de Baião, as melhores batatas que já comi fora da nossa quintazita, arroz de forno. Uma sinfonia... Imaginem em Dezembro...
Toma lá que já almoçaste! A 12 euros a dose (grande!) é um achado... E mais umas entraditas de carne de vinha de alhos, e vinho excelente da casa (1\2 de Avesso e 1\2 de Palheto), bateu a continha nos 25 euritos.
Olhem, para disfarçar os purismos (que ainda os tenho, desde que a qualidade não seja esta) convenci-me a mim próprio que o "cozido no Verão até passa bem desde que se acompanhe com um canjirão de Avesso ou de Palheto de Baião..." Tem é de ser mesmo lá em Baião, na Pensão Borges...
Tenham paciência...
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