Alain Senderens, símbolo de toda uma época de ouro da grande cozinha, fechou o seu Restaurante Lucas Carton , na Madeleine, do qual já aqui tínhamos falado há algum tempo.
O Mestre entregou ao Michelin ("Miquelino" para alguns) as três estrelas que mantinha desde sempre, e... abriu um novo espaço, com decoração mais moderna e menus menos "excessivos"!!
Já alguns críticos tinham notado que pertencer ao restrito clube dos "Estrelados do Miquelino" se tornava cada vez mais difícil e caro: "stress em barda" para os chefes e proprietários, uma procura incessante de novos colaboradores com ideias originais e de produtos cada vez mais luxuosos e raros, a mudança\rejuvenescimento das instalações todos os três anos, etc, etc...
Não admira que os preços praticados se tornassem cada vez mais proibitivos e afugentadores dos jovens, mulheres e homens, que só muito raramente poderiam frequentar tais luxos.
A ideia será passar dos 300 a 400 € que costumava custar uma refeição nos Restaurantes premiados (por cabeça!) para valores mais próximos dos 90€. Conseguirão?
Tudo depende também dos preços do serviço de vinhos... Um grande Bordéus ou Borgonha acrescentaria sempre mais de 500€ ao preço da refeição...
Lembro-me de quase chorar ao provar um Domaine de la Romanée Conti que me ofereçeram no Le Jardin, excelente restaurante do Hotel Royal Monceau, em Paris, e não foi só pela altíssima qualidade do vinho, mas também pela conta que vi ser paga à conta desse mesmo néctar.
Temos de admitir que um "bon vivant" que viva do seu trabalho, mesmo que ganhe muito bem, não poderia pagar frequentemente 1200€ para levar um ou dois acompanhantes a jantar fora... Mesmo que o faça - como eu já o fiz - uma vez por ano, esta não é a clientela que pode rentabilizar um daqueles restaurantes onde são necessários três empregados só para levar a comida à mesa: dois para transportar o prato coberto e um para levantar a campânula...
Eu também sou pela democratização da Grande Cozinha, mas faço uma ressalva: alguém (o Estado, o Governo, o que quer que seja...) deveria pagar , ou melhor dizer, investir, para que em cada País um ou dois Restaurantes existissem sempre de altíssimo gabarito, para não deixar morrer as técnicas da alta cozinha e do serviço de excelência.
Quer queiramos quer não essas técnicas constituem um Património Nacional (Francês, ou Italiano, ou Português) e deveriam ser preservadas da mesma forma como, por exemplo, as Artes Decorativas da encadernação manual a ferros quentes e a couro, ou o entalhe de madeiras preciosas, ou a gravação em talhe-doce dos selos e das notas de banco, etc..
Quem hoje tem dinheiro para pagar à Fundação Ricardo Espírito Santo uma série de livros encadernados à antiga (talvez a 300€ cada um, ou mais) ?
Todavia essa arte merece sobreviver para "memória futura". O mesmo se devia passar com a Alta Cozinha.
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